Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

EMPREJA


A coqueluche da ciência destes dias é a engenharia genética. Começou fazendo experimentos com plantas para produzir espécies mais resistentes, depois passou para os animais, chegou à clonagem e boatos dizem que já clonaram seres humanos. Parece ilimitada sua capacidade em produzir novidades.
Ela chegou também ao campo das igrejas. A partir da década de oitenta, começaram a aparecer os primeiros seres híbridos entre a empresa e a igreja. E disto nasceu uma espécie bastante robusta e vistosa que é a empreja.
Como todo novo ser criado em laboratório, este também precisou incorporar certos vocábulos novos ou assimilar outros do mundo com o qual se associou. O pastor foi cedendo espaço para o líder. O pastorado passou a ser mais administrativo que relacional. A hierarquia tomou conta e surgiram centenas de apóstolos, bispos, profetas, missionários, evangelistas, uma nova geração com títulos bíblicos que estão mais para a Qualidade Total que para o pastoreio do rebanho. O discipulado virou coaching, evangelização agora é marketing da igreja. O trabalho deles passou a ser medido em termos quantitativos e não mais qualitativos.
A empreja passou a ser avaliada em termos de crescimento, renda, arrecadação, tamanho da platéia, níveis de decibéis no momento do louvor. O financeiro passou a falar mais alto que o espiritual. Como me confidenciou um pastor, tem Deus Revelado a ele que a saúde espiritual de sua igreja deve ser medida pelo saldo da conta corrente.
A empreja não evangeliza, faz marketing; não tem rol de membros, tem cadastro de freqüentadores; não tem assembléia, tem liderança que decide em nome da comunidade. Na empreja o fiel não pensa, repete. É um autômato de uma linha de produção em série, bem ao estilo henrifordiano. Na empreja o narciso de um ou alguns têm completa liberdade de expressão. Tal como aquele jogador de futebol que bate escanteio e corre para a área para cabecear, na empreja o narciso ora, canta, prega, dá a benção, faz a coleta e não muito raro, gasta o dinheiro arrecadado.
Na empreja é pecado perguntar, mas é virtude submeter-se; o assunto predileto é autoridade na visão bíblica, onde é maldito o que se levanta contra o “ungido do Senhor”, que é o pastor-proprietário do rebanho. Alguns chegam ao cúmulo de alterar o estatuto para prever que ninguém pode levantar qualquer assunto na Assembléia sem que seja do conhecimento e aprovação do pastor da igreja.
Na empreja se valoriza o tempo de exposição na mídia, pois, como empreja que tem um produto a vender, a salvação em Jesus Cristo, quanto mais ela esteja visível tanto mais sucesso terá. Daí porque tantos programas religiosos na TV.
Os princípios de qualidade total substituem os valores bíblicos e teológicos. O pastor deve ganhar pela sua produtividade: um porcentual pelo número de freqüentadores e outro pelo volume de ofertas levantadas. Em alguns casos, a fórmula é: o dízimo arrecadado é para o líder (pastor, apóstolo, bispo ou seja o que for) e as ofertas extras são para pagar as despesas de funcionamento da empreja.
Este ser geneticamente produzido está privatizando o céu, com lotes à venda nas emprejas, quais imobiliárias da eternidade. Emprejários tem conseguido mandato político e se arvoram em porta-vozes dos mundo religioso, mal denominado de evangélico.

Marcos Inhauser


Nenhum comentário:

Postar um comentário