A coqueluche da ciência destes dias é a engenharia genética.
Começou fazendo experimentos com plantas para produzir espécies mais
resistentes, depois passou para os animais, chegou à clonagem e boatos dizem
que já clonaram seres humanos. Parece ilimitada sua capacidade em produzir
novidades.
Ela chegou também ao campo das igrejas. A partir da década
de oitenta, começaram a aparecer os primeiros seres híbridos entre a empresa e
a igreja. E disto nasceu uma espécie bastante robusta e vistosa que é a empreja.
Como todo novo ser criado em laboratório, este também
precisou incorporar certos vocábulos novos ou assimilar outros do mundo com o
qual se associou. O pastor foi cedendo espaço para o líder. O pastorado passou
a ser mais administrativo que relacional. A hierarquia tomou conta e surgiram
centenas de apóstolos, bispos, profetas, missionários, evangelistas, uma nova
geração com títulos bíblicos que estão mais para a Qualidade Total que para o
pastoreio do rebanho. O discipulado virou coaching, evangelização agora é
marketing da igreja. O trabalho deles passou a ser medido em termos
quantitativos e não mais qualitativos.
A empreja passou a ser avaliada em termos de crescimento,
renda, arrecadação, tamanho da platéia, níveis de decibéis no momento do louvor.
O financeiro passou a falar mais alto que o espiritual. Como me confidenciou um
pastor, tem Deus Revelado a ele que a saúde espiritual de sua igreja deve ser
medida pelo saldo da conta corrente.
A empreja não evangeliza, faz marketing; não tem rol de
membros, tem cadastro de freqüentadores; não tem assembléia, tem liderança que
decide em nome da comunidade. Na empreja o fiel não pensa, repete. É um
autômato de uma linha de produção em série, bem ao estilo henrifordiano. Na
empreja o narciso de um ou alguns têm completa liberdade de expressão. Tal como
aquele jogador de futebol que bate escanteio e corre para a área para cabecear,
na empreja o narciso ora, canta, prega, dá a benção, faz a coleta e não muito
raro, gasta o dinheiro arrecadado.
Na empreja é pecado perguntar, mas é virtude submeter-se; o
assunto predileto é autoridade na visão bíblica, onde é maldito o que se
levanta contra o “ungido do Senhor”, que é o pastor-proprietário do rebanho.
Alguns chegam ao cúmulo de alterar o estatuto para prever que ninguém pode
levantar qualquer assunto na Assembléia sem que seja do conhecimento e
aprovação do pastor da igreja.
Na empreja se valoriza o tempo de exposição na mídia, pois,
como empreja que tem um produto a vender, a salvação em Jesus Cristo , quanto
mais ela esteja visível tanto mais sucesso terá. Daí porque tantos programas
religiosos na TV.
Os princípios de qualidade total substituem os valores
bíblicos e teológicos. O pastor deve ganhar pela sua produtividade: um
porcentual pelo número de freqüentadores e outro pelo volume de ofertas
levantadas. Em alguns casos, a fórmula é: o dízimo arrecadado é para o líder
(pastor, apóstolo, bispo ou seja o que for) e as ofertas extras são para pagar
as despesas de funcionamento da empreja.
Este ser geneticamente produzido está privatizando o céu,
com lotes à venda nas emprejas, quais imobiliárias da eternidade. Emprejários
tem conseguido mandato político e se arvoram em porta-vozes dos mundo
religioso, mal denominado de evangélico.
Marcos Inhauser
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