Isto já me aconteceu várias vezes e percebo que não é só
comigo. Escrevo algo, leio o que escrevi, corrijo, releio, e outra vez corrijo
e mais uma vez leio e acho que está tudo bem. Mando a coluna para a publicação
e quando é publicada percebo que escaparam coisas que deveriam ser corrigidas.
Até já tive leitoras que me escreveram alertando sobre isto.
Tenho notado isto em outros colunistas (sou meio viciado em
notícias e no jornalismo opinativo). É frequente encontrar erros nos textos que
publicam na internet, coisas que não percebia no jornalismo impresso. Parece
que é um mal do mundo digital.
Há muitos erros. Um deles e bastante comum no mundo da
digitação é a inversão de letras na hora de digital. Lembro-me de, certa feita,
ter escrito graça e na publicação descobri que havia digitado garça. Outro
comum é a inserção de espaço no meio de uma palavra (ins tantâneo) ou colocar a
última letra acoplada à palavra seguinte (queir aDeus), ou ainda a falta espaço
entre palavras (coisassimples, queevidenciam). Tais erros são facilmente
reconhecidos e merecem o beneplácito da indulgência. Há os erros de ditografia
(escrever duas vezes em seguida a mesma palavra). Há ainda os erros que podem
parecer de digitação, mas que, na realidade, são de alfabetização: souteira,
adimito, pissicologia, previlégio e outras mais.
Outro erro comum, mas mais grave, é o da concordância que
corta o “s” final ou não declina o verbo apropriadamente (os filho, fulano e
beltrano comeu). Há ainda o erro de grafia e de gramática que evidenciam
problemas mais sérios de conhecimento da língua: trocar mas por mais, eminência
por iminência, precursora por percussora.
Certos tipos de erros podem ocorrer quando se copia um
documento a partir de ditado. Podemos substituir uma palavra homófona por
outra; i.e., “cozer” por “coser” ou “massa” por “maça”, “haja” e “aja”, “haver”
e “a ver”, “passo” e “paço”.
Mas o que me chama a atenção é a incapacidade de ser
perfeita a correção de alguém que relê o que escreveu. A gente escreve, lê,
relê várias vezes e passa por cima dos erros. Parece que a mente não se atina
para coisas simples ou tem um mecanismo de defesa para que não perceba os
próprios erros.
Acho que é uma benção não termos a capacidade de ver todos
os nossos erros. Se tal fizéssemos, seríamos eternos deprimidos e candidatos
sérios ao suicídio. Há uma taxa de erros e defeitos em nós que reconhecemos e
que nos fazem (ou deveriam) ter a consciência de que não devemos ser arrogantes
ou jactanciosos. Há outros que os conhecemos pela ajuda de outros, que podem
ser suaves ou duros ao apresentá-los a nós.
Depois de ter sido alertado para alguns erros de digitação
(e mesmo de concordância), passei a levar a sério a orientação de um famoso
jornalista do New York Times: escreva do jeito que você fala. Coloque o que
escreveu na gaveta e no outro dia volte a ler e corrija. Coloque de novo na
gaveta. Depois de dois ou três dias volte a ler e corte os adjetivos, as
palavras terminadas em “mente”, transforme metade das vírgulas em ponto final.
Dê um tempo e volte a ler. Depois peça para alguém corrigir o que você
escreveu.
Mesmo assim não há garantia de perfeição. E se não somos
perfeitos, por que se considerar melhor que os outros? Cada um tem sua taxa de
imperfeição que deverá saber administrar. Cada pessoa com quem nos relacionamos
tem sua taxa de imperfeição que devemos saber relevar. Nada mais chato do que
conviver com uma pessoa que se acha perfeita!
Marcos Inhauser
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