Aposto como o leitor já deve ter passado por uma experiência
destas.
Há alguns tipos de pessoas com quem a gente precisa
conversar, negociar ou buscar um consenso. Há aquelas que são abertas a
qualquer argumento e cedem sem pestanejar. Concordam com tudo o que se diz ou
se pede. São de uma passividade bovina (frase que devo ao Clovis Rossi, quem
deixou saudades). A impressão que passam é que não têm opinião, não buscam
realizações pessoais ou nem mesmo têm identidade firmada. A gente começa a
conversa e já sabe como vai terminar: “faça do seu jeito que eu assino em
baixo.”
O segundo é formado por aquelas que têm opinião, mas estão
abertas ao diálogo, à troca de ideias, ouvem o que se lhes é apresentado,
refletem, explicitam seus pontos com clareza e assertividade. Conversar com elas
é um desfrute. A conversa flui, é lubrificada pelas novidades que ambos podem
trazer, é temperada com os assentimentos e dissentimentos educados e bem
ponderados. Sente-se que as pessoas escutam e falam na mesma proporção, com equilíbrio.
Pode até haver empolgação, afirmações mais categóricas, um tom de voz mais
alto, sem ser grito. É a defesa honesta que cada qual faz do seu ponto de
vista.
O terceiro é formado por pessoas que são verdadeiras pedras
no sapato. Quando a gente precisa conversar com elas, a gente reza uma meia
dúzia de Pai Nosso. Sabe-se de antemão que a conversa será difícil e, na quase
totalidade das vezes, uma perda de tempo. Elas apresentam algumas
características que devem ser explicitadas. São donas-da-verdade. Adoram
começar suas exposições com as frases: “o certo é”, “na verdade”, “realmente”, “a
verdade é que ...”, “na realidade”, “eu, no lugar dela ou dele...” e outras
típicas. Elas têm visão tapada das coisas, não conseguem ver a floresta e acham
que o galho da árvore que elas veem é toda uma floresta.
Quando elas se apresentam para colocar suas questões, seus posicionamentos
ou decisões costumam ser prolixas, demoradas e confusas. A gente fica ouvindo e
se perguntando: ö que é que elas estão querendo dizer?”
A gente pode deixar falar o tempo que quiserem e não interromper
a fala por nada. Quando a gente pensa que chegou a nossa hora de dizer algo e,
mal iniciamos a fala, somos interrompidos com mais um discurso. Espera-se o
término dele e nova tentativa. Outra interrupção. Isto se sucede
indefinidamente. É impossível terminar um raciocínio.
Se, por acaso, a gente apresenta um raciocínio que desmonta
o que ela está colocando ou propondo, há algumas reações possíveis. A primeira
é acusar. Acusa que a gente não entendeu, que a gente sempre vence (como se
todo diálogo fosse uma batalha com vencidos e vencedores), que a gente, um dia,
vai reconhecer que ela estava certa. A segunda é sair da conversa batendo porta
ou o pé, numa clara manifestação de desagrado. A terceira é ofender, com maior
ou menor intensidade, dependendo da cara que fazemos: se de passividade, se de
desprezo, ou de ironia.
Elas não têm o DNA de “encerramento de uma conversa”. Ela
tem o dom da última palavra: sempre precisam falar e repisar o que falaram aos
montes. No pior dos casos, a última palavra é uma chantagem: “você vai se arrepender
disto!”
A tarefa de conversar com elas é como a missão de molhar o
deserto: nunca se vê resultado, são sempre conversas áridas.
Marcos Inhauser
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