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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

PESSOAS INSÍPIDAS


Aconteceu de novo! Estava na casa de uns parentes e lembrando de coisas passadas, quando veio à tona a lembrança de um fato que envolveu um pastor que visitava a cidade. Ao lembrar dele, recordei-me do filho que estudou comigo e que nunca mais havia lembrado que ele tinha passado pela minha vida. Entrei em contato com outros colegas do mesmo tempo que também estudaram conosco e também não se lembravam, nem tinham notícia dele.
Foi uma pessoa insípida: passou, conviveu e não deixou nenhum sabor de sua passagem. São pessoas que passaram em “brancas nuvens e em plácido repouso” foram colocadas no esquecimento. Morrem na lembrança porque não viveram na convivência.
A passagem delas foi sem nenhuma contribuição, sem benefício para os circundantes, sem ensino passado, sem marcar em algo que tenham dito ou feito. Olhando para trás percebo que o assunto delas era muito reduzido, limitando-se a falar de futebol, contar piadas, falar de doença, reclamar da vida. São doutores em falar obviedades. Têm PhD em Mesmice. Não tem assunto porque nunca leram um livro, não leem jornal, não se atualizam, têm vocabulário limitado. Costumo dizer que estas pessoas não têm “cabine pressurizada”: é só levantar voo na conversa e começam a ter dor de cabeça pela falta de oxigênio (neurônios).
Uma das primeiras colunas que escrevi para o Correio Popular (Somos Água) eu dizia que uma vida significativa se mede pela quantidade de água (lágrimas) derramada na hora da morte e que o epitáfio mais cruel da história é a do rei bíblico que “morreu e não deixou saudades”. Há quem nem na vida dos filhos fez diferença, ao ponto de uma filha me pedir para não falar alto durante a cerimônia de sepultamento do pai porque, se ele estivesse só dormindo e acordasse, ela não ia levá-lo de volta para casa!
Tenho estudado o fenômeno e tenho pensado que as pessoas que passam e marcam a passagem são aquelas que foram significativas porque tiveram alguma destas ações. Marcam a passagem as que nos ensinaram algo que nos ajudaram em um momento concreto, supriram a falta de um conhecimento específico. Lembro-me com clareza onde e quem foi que, diante de uma dúvida quanto ao significado da palavra inglesa foreigner, me ensinou o significado.
O segundo grupo é formado por aqueles que nos deram um norte para a vida, que nos ajudaram a encontrar uma profissão, que nos ajudaram a ter um sonho. Agradeço ao “seo Lineu” quem me chamou à sua casa e me disse, entre outras coisas, que eu devia me dedicar ao ensino. Foi o que fiz a partir daquela conversa.
O terceiro grupo é formado por aqueles que, em momento de crise pessoal, nos ouviram e, muitas vezes com uma só palavra ou frase, levantaram a nossa cabeça. Assim fez o Lauro quem me fez lembrar de um trecho dos Salmos: “as lágrimas podem durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Outro me disse que “depois do dilúvio sempre há um arco-íris”.
O quarto grupo é daqueles que, diante de uma necessidade financeira ou de conhecimento, se dispuseram a investir na nossa vida. Lembro-me do Adilson quando, tendo ido à faculdade com os últimos centavos que tinha, estava disposto e voltar a pé para casa, percorrendo uma distância de uns 10 km. Ele apareceu e se ofereceu a me dar uma carona, sem saber da minha dificuldade. Ele me deixou na porta de casa. Alguns dias depois contei a ele o que tinha acontecido e ele me afirmou que tinha decidido não ir à aula naquele dia, mas que foi porque, em certo momento, percebeu que tinha errado o caminho de volta para casa e estava indo à faculdade.
Marcos Inhauser

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