Há
uma sentença do profeta Zacarias que se torna atual (se é que algum, dia não o
foi). Ela se refere à cidade de Jerusalém e afirma: “ ... farei de Jerusalém
uma pedra pesada para todos os povos; todos os que a erguerem se
ferirão gravemente; e, contra ela, se ajuntarão todas as nações da terra”.
Nestes
dias estamos sendo bombardeados com notícias sobre a transferência da embaixada
estadunidense para a Cidade de Jerusalém e toda a celeuma e conflitos que desta
decisão foram gerados.
Diferentemente
do que muitos cristãos acreditam, Jerusalém não foi uma cidade de Israel nos
seus primórdios. Sua história se remonta a mais de 4.000 anos antes de Cristo,
tendo sido uma cidade dos jebuseus durante um longo período, de onde,
provavelmente seu nome derive, uma vez que o nome pode ter sido derivado de
Jebu+salém (talvez significando “a cidade da paz dos jebuseus”). Foi só no
primeiro milênio antes de Cristo que a cidade foi tomada pelos israelitas e se
transformou na cidade de Davi, passando a ser a capital na nação israelita.
Os
dados acima são mais complexos e merecem estudos mais profundos, o que foge ao
escopo desta coluna. Basta lembrar que o profeta Melquisedec, dos tempos
abraâmicos, era profeta de Salém e que as Cartas de Amarna se referem à cidade
e que a tradição diz que ela foi fundada por Shem e Eber, antecessores de
Abraão.
Ainda
que traga o nome paz na sua designação, ela parece que nunca experimentou
períodos significativos de paz. Sempre foi alvo ou centro de disputas e tensões
internacionais. Mais recentemente se pode mencionar as Cruzadas que tinham o
objetivo de resgatar a cidade das mãos dos muçulmanos e devolvê-la aos
cristãos. Ainda mais recentemente a cidade, com a criação do estado de Israel
em 1948, passou a ser pomo da discórdia entre judeus e palestinos, cada qual
reivindicando-a e usando dados históricos em suas defesas.
A
palavra do profeta Zacarias, mais do que nunca se torna atual. Jersusalém é uma
pedra pesada para todos os povos. Em torno dela gravitam os mais variados
interesses, sejam israelitas, palestinícos, e outras nações (Turquia, Irã,
Líbia, Jordânia, Egito, etc.), bem assim as três religiões monoteístas:
cristianismo, judaísmo e islamismo. Os imbróglios a ela relacionados passam
pela geopolítica, pelos interesses econômicos, pela tradição histórica de
vários povos, pela teologia de três religiões. Cada palito que se mexe parece
que o mundo vai desabar.
As
interpretações ligeiras e nada abalizadas do Apocalipse fazem dela a cidade da
restauração, onde o Messias retornará para governar sobre todos. Passaria,
pois, a ser o centro da política global. Uma visão pró-Israel defendida e
propagada por denominações judaizantes que pretendem se incluir na benção
abraâmica por serem abençoadores do abençoado Abraão e da nação abençoada. Na
contramão, quem se levanta contra Israel, está sob juízo de Deus.
Nesta
linha de raciocínio da teologia fundamentalista, apoiar Israel é fazer a
vontade de Deus, não importa o que Israel faça. A matança de mais de 50 pessoas
que se manifestavam contra a mudança da embaixada para Jerusalém não deve ser
criticada, porque é voltar-se contra o povo de Deus. A nação escolhida e o povo
eleito podem fazer o que quiserem porque contarão com a benção.
Não
acredito nisto. Se não se pudesse criticar o que os reis de Israel fazem não
teriam existido os profetas e dois terços do Antigo Testamento não existiria.
Marcos
Inhauser
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