Todas as vezes que ouço notícias das reformas que o
presidente Temer pretende fazer na previdência e trabalhista, não consigo
deixar de pensar em um rei bíblico: o rei Asa. Sem querer descer aos detalhes
da sua vida e obra, uma vez que há muitos dados para serem considerados, quero
ressaltar aqui que o rei Asa foi uma pessoa que teve bons propósitos para seu
reinado.
Assumiu em momento difícil para a nação. Havia muita tensão
com o reino do Norte, teve que fazer alianças para sobreviver politicamente,
mas, animado pela palavra profética de Azarias, promoveu reformas profundas.
Tal foi seu comprometimento em fazer o que era certo, que não teve dúvidas em
destituir sua mãe, a rainha-mãe Maacá de sua dignidade porque ela havia
construído algo abominável em homenagem a Aserá. Também não teve escrúpulos em
pegar os tesouros do templo para pagar a Ben-Hadade para que desfizesse a
aliança com Israel.
No entanto, a narrativa bíblica coloca senões na sua
atuação: os altos e os postes ídolos não foram retirados ou derrubados. Teve
excelente ímpeto em um monte de coisas, mas deixou ou cedeu às pressões quanto
aos postes ídolos e altos, onde se cultuava os deuses da fertilidade.
Ainda que as semelhanças não sejam exatas, há entre o Temer
e o rei Asa algumas coisas que podem ser assinaladas. Não duvido das boas
intenções do Temer. Duvido de seus auxiliares (vários deles já derrubados por
problemas com a Lava Jato) e das alianças que faz para conseguir o que quer,
nem que para isto tenha que saquear os tesouros do templo (tesouro nacional).
Duvido também da sua constância em perseguir os objetivos que se propôs, uma
vez que tem mudado de opinião cada vez que pisca os olhos.
Assim como o rei Asa, ele teve que destronar a rainha para
que pudesse ter domínio completo. A Maacá do Temer foi derrubada e destituída
porque, no seu entender e no entender dos seus auxiliares, havia ela construído
uma abominável estátua a Aserá (aqui, no caso, à corrupção).
Tal como o rei Asa, sua disposição inicial era fazer todas
as reformas necessárias, doesse a quem doesse. Veio com o ímpeto de um canhão,
pronto a derrubar o edifício existente e construir coisa nova. Tal qual Asa, no
decorrer das tratativas para a reforma radical, foi cedendo à Polícia Federal,
aos militares, à polícia civil, à polícia legislativa. Os altos e os
postes-ídolos da nação ficaram de fora da reforma da Previdência. Se no tempo
do rei Asa era o culto à fertilidade que o demoveu da reforma completa a radical,
com o Temer parece que é o culto à farda que o tem demovido de realizar o que
havia prometido inicialmente.
Assim como Asa que teve que fazer alianças para não ver seu
reinado destruído pelo reino do Norte, o Temer também vai ter que buscar
alianças, mesmo que saqueando o templo, para não ser destronado pelo TSE. Se o
rei Asa buscou Ben-Hadade, temo que o Temer busque a aliança com o Gilmar
Mendes para salvar seu mandato.
É verdade que em ambos os casos houve tempos de paz, no que
pese as muitas frentes de batalha que travaram. No que pese o momento delicado
da política nacional, deve-se dizer que, dadas as circunstâncias, há relativa
paz social. Mas também é verdade que ambos sonharam em parir um dinossauro, mas
pariram lagartixas. Entre o prometido e o entregado, houve e há muita
distância.
Marcos Inhauser
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