A metáfora é bíblica. Comparar a
igreja com um rebanho com seu pastor é algo que faz parte do imaginário dos
leitores bíblicos. Que o pastor tenha a seu cargo o cuidar das ovelhas é o que
a Bíblia ensina. No entanto, nestes dias, a coisa anda complicada. Os que
deveriam cuidar das ovelhas, só olham para elas para saber quanta lã têm e como
tosquiá-las! Mais que preocupadas com o bem-estar de suas ovelhas, preocupam-se
em quanto elas podem render no faturamento.
Para se ter uma ideia da coisa,
conto aqui alguns fatos verídicos, ocorridos há não muito tempo. Um casal
jovem, com uns dois anos de casado, ele criado na igreja, ela não, decidem ir a
quatro igrejas diferentes para saber em qual delas eles se sentiriam melhor
para frequentar assiduamente. Depois das visitas, perguntei a eles o que haviam
decidido. A resposta deles: nenhuma! Queremos uma Igreja é não um camelódromo
onde o pastor vende de tudo, de Bíblia a CDs, passando por livros e camisetas.
Nas outras ouvimos e cantamos alguns louvores e depois foi só pedido de
dinheiro para pagar o programa de televisão, o telhado da Igreja, a ampliação
do templo.
Em outra igreja, em Campinas, o
animador de auditório que deveria ser o pregador e que se chama de pastor,
contou que tinha ido visitar uma igreja em outra cidade e que, no meio do
louvor, uma pessoa ficou endemoninhada. Foi trazida ao púlpito (prá mim era
palco!). O pastor disse que aquele demônio pegava em crente não-dizimista.
Depois de um salseiro, com direito à entrevista do demônio, o “pastor” disse:
“vou mostrar o que o demônio faz com o dinheiro de quem não é dizimista”. Deu a
ele uma nota de R$ 2,00 e a pessoa endemoninhada trucidou a nota, fazendo-a em
pedaços. Veio o sermão sobre o não dar o dízimo: “o diabo destrói o que você
ganhou, rasga, faz picadinho da sua vida e finanças, pense no como estão suas
contas você que não é dizimista e você vai concordar comigo”.
Em seguida, pediu que os
dizimistas da igreja (plateia) se identificassem e pediu que um deles trouxesse
à frente uma nota, de preferência de R$ 100,00. Apareceu alguém. O
“entrevistador de demônio” deu a nota ao endemoninhado e ele a beijou, colocou
sobre o coração e cuidou dela com carinho. Lá veio a mensagem: “quando a pessoa
é dizimista o demônio não tem o poder de destruir as finanças e o dinheiro,
antes cuida dele com carinho”. Dou um picolé para quem disser que, em seguida,
o animador de auditório fez a coleta das ofertas na igreja. Este “tristemunho”
foi contado pelo animador-visitante, agora em sua igreja, para ali também
“motivar os fiéis ao dízimo”.
Em outra igreja, também em
Campinas, o arrecadador de plantão desafiava os presentes a ofertar R$
1.000,00. Depois baixou para R$ 500,00, depois R$ 200,00. A esta altura uma
senhora que a conheço muito bem e que estava em sérias penúrias, foi à frente.
O arrecadador disse a ela em alto e bom som: “a irmã deposite aqui a sua
oferta”. “Eu não o tenho, mas gostaria de poder contribuir e quero que o pastor
ore por mim para que, da próxima vez ,eu possa vir à frente e entregar a oferta
para a Igreja”. Ele, de público a ofendeu e a expulsou do palco.
Não são pastores: são
tosquiadores de ovelhas, não importa quanta lã tenham para ser cortada. Cortam
o que têm, nem que sejam fiapos!
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário