Recebi o seguinte artigo do amigo teólogo Paulo
Ruckert que aqui publico com algumas edições para que caiba no espaço.
Não devemos conceituar Deus assim como
definimos objetos. Precisamos ter uma compreensão correta de Deus, para
podermos nos relacionar com ele. Sem isto, toda a nossa teologia estará sendo
construída sobre a areia.
Explico. Quando ingressei na faculdade de
teologia o modismo da época era a “teologia da morte de Deus”. Já é perturbador
deparar-se com o silêncio de Deus; o salmista grita para que Deus acorde e se
levante. Mas a “morte de Deus” chega a ser desoladora. Nesse caso, nem adianta
gritar.
Depois entendi que esse modismo teológico partia
de um conceito de Deus inventado pelos ingleses e divulgado pelo filósofo
Voltaire, conhecido pelo nome de Deísmo. Sem ele como ponto de partida, a
“teologia da morte de Deus” perde a sustentação e cai no vazio. Há quatro
modalidades que a humanidade tem adotado para se relacionar com Deus.
No seu relacionamento com Deus, o hebreu
vivenciou um paradoxo: Iahweh é imanente e transcendente: ele está dentro do
mundo e também fora dele. Tudo está sujeito à vontade divina, também os
acontecimentos perturbadores.
A partir dessa compreensão de Deus que o AT nos
legou e que Jesus vivenciou integralmente, podemos estabelecer uma análise das
quatro principais maneiras que a humanidade tem formulado para se relacionar
com o divino.
O panteísmo
dissolve Deus na natureza. Todos os seres vivos, incluindo os vegetais, são
considerados uma manifestação de Deus. O universo todo é divino.
O deísmo
é uma religião da razão. O argumento da existência de Deus é racional. O deísmo
postula que Deus deu origem ao mundo e estabeleceu as leis da natureza.
O teísmo
pressupõe Deus fora do universo. Deus é considerado uma pessoa celeste e
perfeita, que passou a se situar fora e distante da humanidade. Ele se encontra
acima do mundo e da humanidade. Deus está isolado desta realidade.
O panenteísmo
declara que Deus está no mundo e o mundo está em Deus. Formado por três
vocábulos gregos: pan (tudo), en (em) e teísmo (Deus) = Deus e o mundo estão inter-relacionados. Há
equilíbrio entre imanência e transcendência de Deus. Deus é imanente como
Criador, mas é transcendente em sua liberdade. Deus é infinito e não pode ser
confundido com os seres finitos. Deus está presente em toda a realidade. Sendo
Deus infinito, nada existe “fora” dEle. Deus não se esgota na realidade
presente. Criou o mundo e continua criando ainda hoje.
O panenteísmo constata que Deus age e reage.
Quando o povo se corrompeu fabricando o bezerro de ouro, Deus decidiu eliminar
os idólatras e começar uma grande nação a partir de Moisés. No entanto, o líder
do povo intercedeu, colocando-se “na brecha” (Sl 106,23) e bloqueando a
execução do juízo. Diante da intercessão, “se arrependeu o Senhor do mal que
dissera havia de fazer ao povo” (Ex 32,14). Deus age e reage. O Deus vivo e
dinâmico não está somente “lá fora”, observando os acontecimentos. Ele atua
dentro do processo da realidade e interage com o que acontece, podendo até
voltar atrás e reconsiderar o curso dos acontecimentos. Deus atua na realidade
e os acontecimentos provocam uma reação em Deus.
Se Deus não reagisse aos acontecimentos,
redirecionando o seu desígnio, então todas as nossas orações seriam um falar no
vazio. Mas, nós podemos contar um Deus vivo, dinâmico e atuante. Assim como o
salmista, nós podemos contar com a intervenção divina na realidade, mudando a
sorte do seu povo. Podemos esperar e confiar no agir de Deus.
Paulo Ruckert
PS - O texto completo pode ser solicitado por e-mail para marcos@inhauser.com.br
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