Todo mundo sabe que a palavra hipocrisia significa fingimento, falsidade. Ocorre que a origem da palavra vem
de outro contexto e sentido. Vem do grego hypocrites, que na
Grécia antiga, designava os atores de teatro, os quais, durante as
apresentações, fingiam ser outras pessoas. O palco era uma
"hipocrisia" pois os que ali atuavam fingiam ser quem não eram.
Assim, o hipócrita oculta a realidade através
de uma máscara, de uma aparência do que ele realmente é. O hipócrita finge
possuir boas qualidades para ocultar seus defeitos, sendo também conhecido como
pessoa dissimulada.
Nestes tempos de mensalão e Lava Jato, o
cenário político se transformou em um grande palco teatral, com atores fingindo
ser o que não são. Os mais variados discursos têm parecido, todos encenações de
uma ópera bufa. Há uma constância nas falas dos atores: negam o que se lhes
acusa com a veemência dos indignados. O conteúdo das falas pode mudar na
argumentação. Uns alegam perseguição política (talvez a mais comum), outros
dizem que as acusações são infundadas, levianas, irresponsáveis, feitas por
criminosos confessos, etc.
A prática de negar é a primeira alternativa
para os que são flagrados com a mão na botija. Outros preferem a perseguição
política (tal como o fez Eduardo Cunha), sem, contudo, dar uma explicação
sequer para esclarecer as coisas. Outros negam até a assinatura aposta em
documento de banco, que comprova serem seus os milhões em depósitos em paraíso
fiscal (Maluf). Outro se transforma no maior pecuarista do mundo em termos de
fertilidade do rebanho (Renan Calheiros). Outro apela para tias e parentes
mortos que teriam deixado herança milionária, sem que isto tivesse sido
declarado à receita, um mero lapso cometido pelo contador.
Há quem, sendo confiscado de seu patrimônio
(Lamborghini, Masserati e BMW 760), apela para
a o TCU investigar as contas da PGR, em clara retaliação. Aqui impera a lógica
de que, se se flagra algo errado na PGR, as minhas falcatruas estão
legalizadas, porque quem me acusa, tem também suas mazelas.
Há quem acuse o juiz
de se achar o dono do Brasil, o Procurado da República de ser pau-mandado do
PT, a PF de ser aparelho do Partido. Esquecem-se de dizer que há gente do
partido nas investigações, que o ex-guru-mor do partido está sendo investigado
por consultorias que nunca prestou, que o tesoureiro está enroscado até o
pescoço e que a coisa anda sobrando pelos lados do Palácio, com dois ministros
citados.
O grupo encarregado
de explicar/justificar as “pedaladas fiscais” também está enveredando por este
caminho, tentando mostrar que outros também o fazem e que a prática consagra a
ética.
A crer-se nos discursos
inflamados dos “indignados e perseguidos”, o Congresso Nacional seria um
convento de monjas virgens, cuja santidade é comprovada pela face angelical que
possuem. Conventos também seria as Assembleias Legislativas e as Câmaras de
Vereadores. Pelo que se sabe, nenhum destes conventos é santo. Muitos se
prostituíram nas lambanças e baladas das propinas.
De minha parte fica
o orgulho de ver que ainda há algo que funciona neste país: a Justiça Federal
no Paraná. Não que não haja outros exemplos, mas por agora, cito este. Ouvir a
sentença dos primeiros donos de empreiteiras (fato que eu não cria ser possível
há menos de um ano) e ver a prorrogação da prisão preventiva do diretor da
maior empreiteira por prática reiterada de crimes, mesmo depois de deflagrada a
operação e estar preso, é algo que me dá esperança de que algo está
acontecendo.
Marcos Inhauser
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