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segunda-feira, 28 de junho de 2021

A ESPECIFICIDADE DA ESPECIALIDADE

Participei e participo de muitos grupos de pastores e especialistas em teologia. Há os que entendem de teologia e há os que entendem de Bíblia. São duas coisas diferentes dentro de uma área que, para os leigos, são a mesma coisa. Os especialistas em teologia podem ser em teologia sistemática, teologia bíblica, teologia prática, teologia pastoral, religião e sociedade, ou em história da teologia. Os especialistas em Bíblia podem ser em Antigo Testamento, Novo Testamento, Evangelhos, exegese bíblica, gêneros literários bíblicos, grego, hebraico, aramaico etc.

Assim como em outros campos do saber, há os generalistas, que têm uma visão do todo, mas que, quando precisam de informações mais precisas e profundas, buscam-nas com os especialistas. Um especialista sério, ainda que possa ter suas convicções sobre outras áreas que não a sua especialidade, preferem remeter o assunto a quem de direito.

O mesmo ocorre com a área médica. Há os clínicos gerais, mas há os ortopedistas, otorrinolaringologistas, dermatologistas, cardiologistas, pneumologistas, oncologistas, infectologistas etc. Para explicitar o detalhamento, no campo da ortopedia há quem se especialize em mão, outros em joelho, outros em quadril. Podem ter a visão geral, mas a especificidade da sua especialidade os leva a limitar-se à sua área.

Buscar um ortopedista para problema no ouvido é insensatez. O mesmo é buscar oncologista para tratar de infectologia. Como diz o ditado, “cada macaco no seu galho” ou “sapateiro, ao teu sapato”.

Há os que, ainda que tenham uma especialidade teológica, também se especializaram em áreas correlatas. Tenho um amigo que é teólogo, se especializou em Bonhoeffer, mas estudou muito sobre a teologia nas histórias em quadrinhos.

Eu me especializei na Teologia Pastoral e me preocupei com as relações de poder na relação pastor-igreja e igreja-sociedade. Estudo a participação dos líderes religiosos na política e o jogo de poder que se estabelece nestas relações. Com veio mais ao estilo do profético veterotestamentário, me inclino para as denúncias de conluios existentes nesta relação. Para esta minha leitura/interpretação valho-me dos noticiários, dos comentaristas, dos colegas pesquisadores na área, das informações colhidas nas conversas pessoais, da análise lógica, do confronto de versões, das leituras filosóficas e especialmente de Michel Foucault. Posso fazer menção a coisas do AT ou NT, da teologia e da história da Igreja, mas tenho consciência de que falo generalidades.

Como toda e qualquer interpretação de fatos públicos, posso ser aceito ou rejeitado nas minhas conclusões. Faz parte do jogo. Posso ser elogiado por quem não tem noção das coisas a que me refiro, posso ser criticado por quem, sem saber patavina da área, se arvora em conhecedor das entradas do piolho.

O que percebo é que, quem não conhece a especificidade da área tratada pelo especialista é acidamente atacado por quem nunca estudou. Um amigo, com doutorado em missiologia, escreveu um artigo na sua área. Eu o considerei muito bom e compartilhei. Teve quem se arvorou em melhor conhecedor que ele e, sem nunca ter se aprofundado na área, o acusou de heresia e destruidor da fé.

É o preço que o engenheiro civil paga ao ser criticado pelo pedreiro, que acha que sabe mais que ele.

Marcos Inhauser

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