Se os seres humanos foram criados por Deus, concluímos que Ele nos fez diferentes por uma de duas razões: por capricho de Deus ou porque há um propósito. Quando Deus percebeu que não era bom o homem estar só, criou a companhia, que diferia em gênero: uma mulher. Para ser auxiliadora tinha que ser diferente. A ajuda vem da diferença. Quando duas pessoas iguais estão juntas, não podem se ajudar porque pensam e decidim de forma igual.
O mesmo se aplica à espiritualidade. Somos ajudados no
crescimento espiritual quando convivemos com a diferença. Não é o cercar-se de
gente igual que dá a certeza de estar certo. Há mais probabilidade de incorrer
em erro quando cercado de gente igual do que quando de gente diferente.
Os iguais bajulam, porque dizem o que se gosta de ouvir, não
criticam porque seria criticar-se, uma vez que pensam e agem igual. Quem se
cerca de gente igual, ao invés de crescer, para no tempo e fica se deliciando
com as verdades que crê e recusa as novas, porque envolvem o risco.
Por outro lado, se se cerca de gente com capacidade e a
liberdade de questionar, perguntar, duvidar do que se crê, afirmar coisas
diferentes, a convivência será caracterizada pela constante reflexão, análise e
reposicionamento. Quando se revê pensamentos e os avalia criticamente à luz de
posições divergentes, há amadurecimento. A maturidade não está na certeza e na
repetição ad infinitum das verdades. Ser um poço de certezas é ser
inseguro e de imaturo. O ignorante é o que mais sabe e Sócrates dizia que uma
coisa sabia: que nada sabia.
O sábio não se conhece pela quantidade de certezas que tem,
mas pela qualidade das perguntas que faz. O maduro não precisa dizer “quem
manda sou eu”. Isto é sinal de imaturidade e ignorância. Obrigar que sua
verdade seja a verdade de todos é um ato de estupro intelectual. Se, como
afirma Foucault, a verdade é versão dos poderosos, ter que afirmar a própria autoridade
é autoritarismo. Quem deste recurso necessita dá provas de insegurança e burrice.
Estas reflexões me levam ao ecumênico. Tenho visto gente na
defensiva e no ataque ao ecumênico. Acusam-no de tudo pelo fato de colocar
pessoas que pensam diferente para conversar e encontrar caminhos comuns. O
ecumenismo é uma proposta para gente madura, sem medo do diferente, do novo, de
avaliar-se e até reconhecer que está errado. O ecumênico é um risco para os
donos da verdade, porque elas podem ser falsas. Os inseguros se lançam ao
ataque difamatório. Donos da verdade e ditadores em suas comunidades, não tem
maturidade para o diálogo, porque treinados no arbítrio. Pregam como verdade o
que creem, sem dar chances de serem questionados ou criticados.
Estes se esquecem que Paulo diz que nos últimos tempos
cercar-se-iam de mestres segundo as suas cobiças e que estariam rodeados de
gente igual. Nada mais tentador e arriscado para a fé que cercar-se de iguais.
No antigo Israel a diferença foi feita pelos profetas, que anunciavam o
diferente, que quebravam o discurso dogmático e questionavam os sacerdotes e
reis. Era o questionamento da verdade do poder (político dos reis e religioso
dos sacerdotes), porque o poder, via de regra, necessita do diálogo e da
diferença para ser verdadeiro. Necessita da parresía, o discurso da verdade,
feito pelos que se opõem. Democracia sem oposição é o governo do demo.
Marcos Inhauser
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