Não chegamos às 150.000 mortes, mas estamos perto dele. Chegar aos 200.00 é uma questão de tempo. No mundo, na segunda-feira, se chegou a um milhão de mortes pela Covid-19!
O número de
Dunbar é o limite no número de pessoas com as quais alguém mantém relações sociais estáveis, afetivas e conhece dados pessoais
significativos. É o número no qual cada pessoa conhece cada membro do grupo e
sabe identificar a relação dele com as outras pessoas do grupo. Este número foi
estabelecido por pesquisa e referendado por outras e citado em inúmeros
trabalhos acadêmicos, especialmente no campo da antropologia. Proposto
por Robin Dunbar, esse número teórico varia entre 100 e 230 pessoas. Vamos
tomar a média entre o mínimo e o máximo e trabalhar com 165 pessoas com as
quais cada um de nós conhece, se relaciona e sabe quem é, o que faz, tem algum
sentimento em relação a ela e que a falta dela, por ausência ou morte afeta
significativamente a vida das demais pessoas.
Tomando
as 150.00 pessoas que morreram, vezes as 165 pessoas que, em média, sentem a falta
delas, teremos, no Brasil, 2.4750.000 chorando a morte de alguém e 165.000.000
em prantos no mundo. Ocorre que, há casos da morte de pessoas que não conhecíamos
e soubemos das características delas em vida ou como foi a enfermidade, ou as
pessoas que deixaram e nos solidarizamos e, não poucas vezes, choramos pelo
desconhecido.
Ocorre
que, com a seca, as queimadas e a quantidade de animais que foram dizimados ou
feridos com as queimaduras, todos choramos pelo desastre ambiental, aumentando
o manancial de lágrimas da pátria. Não só choramos as mortes humanas, mas
também a morte de parte da Amazônia, do Pantanal e de outros biomas vitimados
por incêndios, quase todos criminosos.
Sabe-se
que há certo nível de sensibilidade nas plantas, que elas podem retribuir o
cuidado, como podem se ressentir com os maus tratos. Se há, como pesquisas têm
evidenciado, certo sentimento nas plantas, acredito que posso afirmar o
sofrimento das árvores cortadas, queimadas, de toda a vegetação dizimada pelo
fogo. Posso falar do sentimento dos animais em pânico com a tragédia que se
avizinhava, posso chorar a morte das onças pintadas, capivaras, porcos do mato,
jacarés, etc.
De
minha parte, chorei nesta segunda-feira com a sentença de morte de outros
ecossistemas decretado pela resolução trágica e insustentável do Conama, apoiada
pela CNA e CNI, capitaneada por um facínora ambiental.
A
dor de algo inevitável é menor que a dor de algo que se perde e se podia
evitar. Ver mesmo que seja a mãe ou pai morrer depois de longo período de
enfermidade, pode até ser reconfortante, ainda que choremos a perda. Mas chorar
a perda quando ela poderia ter sido evitada é muito, mas muito mais dolorido.
Quantas lágrimas rolaram nas faces de quem teve um filho, pai, mãe, esposo ou
esposa perdidos pela falta de leitos, respiradores, remédios? Morte evitáveis,
mas que foram assassinados pela incompetência, incúria e imperícia. Quantos
amantes da natureza não choraram ao ver e saber do que acontecia nos
ecossistemas devastados pelo fogo?
Somos
uma pátria em prantos. A seca não se combate com as águas das nossas lágrimas,
mas elas podem regar novos tempos, novas realidades. As lágrimas doloridas e
amargas das perdas pessoais e da natureza podem fazer crescer o rio para
arrastar para longe o antiministro, para quem o meio ambiente é “só meio
ambiente” ou “ambiente pelo meio”.
Marcos
Inhauser
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