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quarta-feira, 9 de setembro de 2020

(FÉ)SIOLOGISMO

Estudiosos e teólogos vêm levantando a questão das implicações ideológicas que se entrelaçam no campo das doutrinas religiosas. Por se tratar de área que trabalha com texto religioso crido como sendo “A Revelação de Deus”, onde o próprio Deus teve participação ativa ao dar-Se a conhecer, os cristãos têm tomado o estudo da Bíblia seria e reverentemente.

No entanto, não são poucos os casos em que estas atitudes cedem lugar às concepções esdrúxulas e fanáticas. O fundamentalismo com a tese de inerrância e infalibilidade das Escrituras gerou uma plêiade de intérpretes que, por trabalharem algo que julgam ser inerrante, também assumem que suas interpretações são inerrantes e infalíveis.

Tem-se chamado a atenção para a influência do "reconstrucionismo" em setores carismáticos evangélicos, como forma de acrescentar poder e prestígio à igreja e ajudar na recuperação do poder político que a igreja teve com a era constantiniana. Este poder foi abalado com os Anabatistas, no século XVI, na Reforma Radical. Eles defendiam a completa separação da Igreja e do Estado.

O reconstrucionismo nasceu nos Estados Unidos nos anos 60 e ganhou força nos países latino-americanos nos anos 80. Esta teologia está vinculada a religiosos conservadores estadunidenses e à política neoliberal. Ela se disseminou por toda a América como ofensiva contra a Teologia da Libertação. As pregações religiosas carismáticas, pentecostais e neopentecostais passaram a ser pró-capitalismo (teologia da prosperidade) e individualista (religiosidade televisiva e individualista).

O reconstrucionismo afirma que os cristãos têm a missão dada por Deus, um "destino manifesto", devendo assumir posições de poder no governo, com o objetivo de reconstruir os países. As nações latino americanas, por seu passado indígena, cultos afros “pagãos” e a colonização católica “idólatra” legou uma maldição secular que deve ser quebrada com atitudes de coragem e destemor.

Para tanto, há grupos, até mesmo de empresários e profissionais liberais, buscando as “fortalezas de Satanás em cada cidade” para “tomar posse em nome de Jesus”. É a concepção do “evangelho pleno” Inicia-se o processo de reconstrução a partir da base moral e espiritual. É a ampliação do governo de Deus através da igreja, ocupando espaços de poder que foram descuidados. Ministros de Estado evangélicos têm sido celebrados como benção de Deus!

Estamos saindo religiosidade de monopólica para uma concorrencial. O crescimento numérico dos evangélicos levou ao crescimento do campo evangélico e carismático, penetrando nos diferentes níveis da sociedade". Com isto cresce o interesse de alguns desses grupos pela participação política, notadamente em setores que há alguns anos eram os mais reacionários a tal participação.

Esta participação na participação política passa pelo clientelismo e fisiologismo, na busca de benefícios para a igreja e para os evangélicos, apoiando direta ou indiretamente setores evangélicos marginalizados do poder durante tantos anos.

Os exemplos de fisiologismo e clientelismo são muitos. Sanguessugas: escândalo das ambulâncias, quando toda a bancada da IURD estava envolvida; Eduardo Cunha: filado à Assembleia de Deus, tem dezenas de sites “evangélicos” e é acusado de usar igrejas para lavar dinheiro; Família Garotinho: Presbiteriano, tinha programa radial de orientação. Ele e a esposa já foram presos; Bispo Crivela: Já teve vários pedidos de impeachment pelo desastre na saúde,  agora com o cerceamento do trabalho da imprensa; Flordelis: líder da bancada evangélica, cantora, dona de uma denominação, acusada de ser a mentora do assassinato do marido e de práticas sexuais nada ortodoxas; Pr. Everaldo: atualmente preso, dono de um partido e envolvido nos escândalos da Saúde no RJ.

Somos agora surpreendidos com um projeto de lei do filho do R. R. Soares, perdoando dívidas de um bilhão de entidades religiosas flagradas em esquemas fraudulentos.

Tudo com fundamentação bíblica!

Marcos Inhauser

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