Os recentes episódios da política brasileira, tão pródiga em
trapalhadas e fonte inesgotável para os humoristas, me levaram a lembrar de uma
frase do Platão: “ Quem ocupa um cargo – quer ele próprio o tenha escolhido
como o mais honroso, quer nele tenha sido posto por um chefe – tem o dever, na
minha opinião, de nele permanecer firme, qualquer que seja o risco, sem levar
em conta a morte possível, nem qualquer perigo” (Apologia de Sócrates).
Sabe-se por dados públicos que o Bebiano foi o
condutor-chefe da campanha do Bolsonaro, sendo o estrategista de primeira hora,
o caixa da campanha e a figura central de tudo quanto se referia à campanha. Sabe-se
também que ele e o Carlos Bolsonaro não eram grandes amigos, antes, pelo
contrário, se estranhavam a toda hora. Por dedução basilar sabe-se que o
Bebiano se candidatava a um cargo expressivo no governo do seu eleito, como
“pagamento” pelo que fez durante a campanha, mas não foi dos primeiros
nomeados, tendo sido o décimo primeiro. Se ele foi nomeado para o que todos já
sabiam que o seria, por que demorou tanto para que seu nome fosse anunciado? O
que dizer das notícias de que sua nomeação desagradou o filho mais novo, o
Carlos, com quem já vinha mantendo alguns entreveros?
De outro lado, não pode ser desprezada a simbologia da
presença do pitbull da família no carro durante a posse presidencial. Tampouco
deve ser desprezada a simbologia da sua presença em reuniões do alto escalão
executivo (sem que tivesse qualquer cargo no primeiro escalão), e também a sua
presença em Davos.
Isto posto, se deve fazer uma avaliação crítica, entendendo
que a avaliação e a crítica dos outros (Bolsonaro e Bebiano) tem duas
possibilidades: interpretar e assimilar a avaliação crítica e mudar, ou indagar
e questionar para extrair o que há de verdade nela. As rusgas entre o Pitbull e
o Bebiano foram noticiadas e pouco avaliadas para se extrair a verdade dos
fatos. O clímax da tensão feito no post em que o Carlos carimba o Bebiano de
mentiroso tem sido alvo de muitas indagações e críticas e a verdade, ao que me
parece, ainda não veio à tona. No entrevero Carlos e Bebiano, somou-se o
respaldo do pai ao filho. Disto resultou a demissão do Bebiano.
Voltando ao Platão, o Bebiano teria “o dever, na minha
opinião, de nele permanecer firme, qualquer que seja o risco, sem levar em
conta a morte possível, nem qualquer perigo”. É verdade que ele não saiu, foi
saído, o que torna a coisa ainda mais passível de investigações e conjecturas.
Alegar “foro íntimo” é fugir da raia. Se o presidente diz que seu lema é o
bíblico “conhecereis a verdade e a verdade nos libertará”, ele tem o dever de,
em consonância com seu lema, vir a público e dizer a verdade libertadora.
Agora, se ele tergiversa, afaga no “live” que publicou e oferece a ele um cargo em Itaipu, seria esta a
forma da nova política que ele se propõe a fazer? Neste céu que não é de
brigadeiro, tem muita nuvem escura e a meteorologia política prenuncia chuvas e
trovoadas, com deslizes e mais mortes políticas. O que me pasma é que os
espaços vão sendo ocupados pelos militares. Isto, para mim, é sinal de que
chuvas torrenciais virão!
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário