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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

DETESTO FINAL DE ANO

Nunca acreditei na mágica que a passagem de 31 de dezembro para 01 de janeiro tivesse o condão de mudar as coisas. Também nunca acreditei que pular sete ondas, vestir-se de branco, tomar champanhe, abraçar amigos e desejar e receber os desejos de um feliz ano novo tivessem a capacidade de alterar os fatos e a trajetória da história. Se quantidade de ano próspero fizesse alguma coisa, teria a fortuna de um ex-presidente!
Posso parecer meio fatalista, mas eu me acho mais realista que fatalista.
Creio, no entanto, que a nossa vida e estrutura mental precisam de descansos em intervalos regulares, bem assim de recomeços, como para alimentar a possibilidade de se fazer as coisas de forma diferente para se ter a coisa diferente.
Mas o que mais me entendia nos finais de anos é a mesmice: programas de televisão abusam das retrospectivas, bem assim as rádios e revistas. Os jornais também não fogem à regra de recontar o que aconteceu. E lá vem o desfilar das mesmas coisas vistas durante o ano e agora revistas em tudo quanto é canto. Todo final de ano é o show do Roberto Carlos, cantando as mesmas músicas, as mesmas notícias da queima de fogos em todas as partes e gente saltando de alegria, embalados etilicamente.
Também me irrita a profusão de futurólogos, sejam eles que nome tenham. No que pese a quantidade de desatinos que já disseram e a ínfima margem de acerto que alguns tiveram (por pura sorte e nunca por premonição), estão os tarólogos, astrólogos, leitores de mapas astrais, de planilhas eletrônicas, dedados das bolsas,videntes, leitores dos búzios e quejandas. Cada qual fala o que quer, adequada à audiência. No planejamento das “vidências” sempre trazem a morte de um famoso ou a vitória disto ou daquilo, mas nunca o fazem de forma explícita, mas em linguagem hermética, monossilábica, possível de várias interpretações. É a revelação elada para que cada qual entenda como quiser e todos se sintam revelados. E se estabelece a competição entre os videntes para saber quem vai dizer a coisa mais espetaculosa. Babaquices que a mídia amplifica nos finais de ano.
Outra classe de videntes, estes com ares de profissionais da exatidão, são os economistas. Entra ano, sai ano e eles chutam mais que centroavante de time de fazenda. Como poucos vão se dar ao trabalho de, hoje, verificar o que disseram lá em 2015, se sentem no direito e dever de continuar chutando seus números e cálculos. Impressiona-me a precisão deles: a inflação será de 4,07, e não 4,08 como estão dizendo! O dólar, em dezembro de 2017 estará na casa dos R$ 3,48897! O crescimento do PIB será 0,002 superior ao que espera o Banco Central!
Incluo aqui os comentaristas de esportes, notadamente os de futebol. Antes mesmo de saber quem vai jogar em qual time, quais as condições desta ou daquela equipe, já afirmam categoricamente que o time X é forte candidato ao título. Quem é forte candidato ao título de embusteiro midiático são estes comentaristas-videntes.
Depois de um 2016 ciclotímico, que nos deu alegrais e depressões no mesmo dia, que prendeu gente que queríamos ver presas e deixou corrupto desobedecer ordem judicial sem nada acontecer, nada mais lógico que os políticos, notadamente o Temer, venham dizer que 2017 será melhor. Todos queremos que melhore. Mas melhorará se colocarmos a mão na massa, trabalharmos e apoiarmos quem anda dando um basta à corrupção. Não se precisa de videntes ou economistas para isto!
Marcos Inhauser

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