Chama-me a atenção
como as igrejas e os membros delas estão obcecados pelos números. É só
perguntar a alguém qual a igreja que frequenta e, invariavelmente, dará o nome
da igreja e em seguida emendará alguns números: “temos um templo para 8.000
membros”, “nossa igreja tem 17 pastores”, “recebemos 154 pessoas por batismo no
domingo passado”, “a arrecadação da nossa igreja tem uma média de R$ 250.000
por mês”, “temos 345 grupos familiares”, “tivemos um culto abençoado e 87
pessoas foram à frente se decidindo por Jesus”, “nossa igreja sustenta 12
casais de missionários nos campos”, “estamos construindo um templo para 10.000
mil pessoas”, “fazemos a oração dos doze apóstolos”, “impetramos a benção dos
318 servos poderosos”, etc.
Cada qual quer impressionar
com a grandiosidade dos números apresentados, como se a pujança e o vigor de
uma comunidade estivessem nos números que apresenta. Eles avalizam a prática
ministerial, teológica, programática e doutrinária da igreja. É um tipo de “os
números validam a prática”. Quanto maiores forem eles, mais acertada estará a
comunidade no seu entendimento da vida religiosa.
Ao anunciar um
convidado especial, fazem 1questão de dizer que o mesmo é pastor de uma igreja
de tantos mil membros em algum local desconhecido, de preferência no exterior.
Dá mais autoridade ao convidado e a quem o convidou. Há pouco tempo fui buscar
um amigo que participava de uma convenção dos numerólatras. Com voz triunfante
anunciavam que há menos de 10 anos tinham começado com 55 pessoas reunidas e
que naquele momento estavam com 2.300 pessoas na atual convenção. E desafiavam
a todos para que, no próximo ano, chegassem a 5.000.
A busca dos números
superlativos para uma comunidade se transformou em uma idolatria. Eles são a
certeza da benção, da garantia do acerto da prática ministerial. Eles validam
qualquer prática, desde que os templos estejam cheios. Grupos pequenos são
sinônimo de fracasso.
Certa feita, convidado
a pregar em uma igreja que nunca tinha visitado, tive o pastor da Igreja
afirmando que a certeza de que Deus estava no meio deles era que havia gente
até do lado de fora do templo. Não aguentei. Mudei o sermão: “onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei”. Afirmei que só podia garantir a
presença de Deus, segundo as Escrituras, quando dois ou três estivessem
reunidos em Seu nome. Mais que isto era temerário. Não preciso dizer que nunca
mais me convidaram para pregar naquela igreja.
Arrecadação,
frequência, membresia, programas, festas, cultos especiais são o alvo maior
porque se pode contar e propagandear as façanhas. Comunhão, serviço ao próximo,
ajuda ao necessitado, visitas aos enfermos, apoio ao que sofreu perdas
significativas, não dão Ibope. Muitos frequentam esta ou aquela igreja porque
não precisam se envolver. Vão, assistem, e saem. Outros frequentam esta ou
aquela igreja e fazem questão de colocar um adesivo no carro, porque aquela
igreja tem grife, tem números!
Seria a ênfase nos
números uma necessidade para que uma comunidade se caracterize como igreja? É o
número dos que frequentam que validam a existência? É o tamanho do templo a
garantia de que se está em um local sagrado? São os 45 minutos de louvor que
fazem um culto ser uma benção? É o número de músicos à frente o que abençoa?
Se na antiguidade se
condenava o deus mamon e o da fertilidade, hoje se deve combater o deus da
grandiosidade e dos números.
Marcos Inhauser
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