Não entendo que seja
acidental o fato de que os evangelhos, as cartas e o Atos dos Apóstolos façam
qualquer menção a um edifício que abrigasse alguma comunidade cristã nos
primórdios da igreja. Sem espaço nesta coluna para me delongar na fundamentação
histórica e fática de tal afirmativa, relembro que Jesus pregou seus sermões no
monte, na praia, desde um barco, no interior de uma casa. Uma única vez o vemos
em uma sinagoga. Relembro ainda que quando ele foi a Jerusalém e ao templo pela
primeira vez, foi quando criança. Quando adulto, criticou o que ali se
praticava, tendo derrubado as mesas dos cambistas.
Por ter sido
perseguida, a igreja nascente teve que se esconder, fazer suas reuniões de
forma quase silenciosa, em Roma se reuniu nos subterrâneos (catacumbas), teve
seus líderes perseguidos, presos e martirizados.
Nos primeiros
trezentos anos da igreja não se falou em edifícios, templos ou coisa que o
valha. Tudo indica que isto começou a acontecer depois que o cristianismo foi considerado
a religião oficial do império romano, por obra e graça (para alguns, desgraça)
de Constantino. Porque agora era legal, oficial e abrigava o imperador, se
devia ter construções que abrigassem ao imperador e seu séquito. Ele mudou a
capital do império para Constantinopla (em homenagem a si mesmo) e ali
construiu um palácio eclesial que fosse digno de sua presença. Nascia assim a
catedral!
Esta associação do
templo com o palácio real também se deu nos tempos de Salomão que teve o seu
palácio ao lado do templo, com acesso privativo.
Esta associação levou
o cristianismo a um caminho desviante: confundir igreja com edifício. Igreja é
gente reunida em comunhão, nunca edifício. Igreja é feita de gente e não de
tijolos, telhas, bancos, púlpito e holofotes.
Igreja é gente reunida
em comunhão, que tem o compromisso de amar o próximo e ajudá-lo em suas
necessidades. Igreja é o compromisso de atender ao pobre, à viúva, ao exilado,
ao estrangeiro. Igreja é serviço, é doação, é lavar os pés.
Se olharmos para as
religiões templárias (as que se apresentam em função do edifício que têm), o
quanto arrecadam, o quanto gastam com a manutenção do patrimônio (limpeza,
conservação, água, luz, pintura, faxineiros, etc.), aliado ao uso semanal que o
elefante branco tem, constata-se que há um clamoroso desperdício de recursos na
construção e uso dos edifícios. E o pobre, a viúva e os demais necessitados
pouco ou nada tem de ajuda destas comunidades templárias.
Templos são locais
maravilhosos para os narcisos se exporem. Congregam centenas, milhares, todos
olhando à frente, para o iluminado pelos holofotes. Todos ouvem o que ele diz
porque um potente sistema de som irradia o que ele fala. Templo não é lugar de
conversa, diálogo, mútuo aprendizado, antes de exercício do monólogo do que
sabe, que “ instrui a horda que não sabe”. No templo não se exercita comunhão,
só a audição. No templo só ficamos sabendo das necessidades da organização:
precisamos de tantos mil para terminar a reforma disto, para pagar o programa
de rádio ou televisão, para reformar o telhado, etc.
No templo não se fala
do pobre, porque não são bem-vindos: precisam estar decentemente vestidos,
tomados banho e perfumados, como a maioria dos templários estão.
Igreja é gente, é
serviço de amor ao próximo, é comunhão íntima que se tem nos pequenos grupos.
Igreja é conhecer gente, é saber das suas histórias e necessidades, é
envolver-se com o outro. Igreja é ser família, a família da fé que é tão
família quanto pai, mãe e filhos.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário