Há anos venho me interessando e me inquietando com a
divinização da quantidade, que recebe nomes variados dependendo do contexto ao
qual se aplique. Ora chamam de produtividade, ora de eficiência, ora de
maximização. No campo das igrejas chamam de crescimento, megaigrejas ou
sucesso.
No início dos anos 80, tendo participado com uma conferência
com Peter Wagner (o divulgador do crescimento exponencial das igrejas via
aplicação de fórmulas “descobertas” pelo movimento do Church Growth), escrevi
um artigo atacando as suas posições e dizendo tratar-se de um pragmatismo maquiavélico:
tudo o que funciona é moralmente válido. Se a igreja cresce, não importa o que
se faça, está validado pelo resultado. No campo empresarial a mesma regra se
tem aplicado. Troca-se o funcionário experiente pelo aprendiz, porque este
custa bem menos. Reduz-se o número de empregados e se sobrecarrega os que
ficam, para que a produtividade per capita seja incrementada. Tudo vale, até
contratar prostitutas para um treinamento de desinibição, como ocorreu com uma
cervejaria brasileira, devidamente penalizada por tal prática.
Há, no entanto, um esporte favorito neste universo: acusar
os líderes e as corporações de serem desumanas. Ocorre que o operário e o
religioso médios não querem pensar. O trabalhador médio quer um trabalho no
qual não quer gastar muita energia e, de preferência, que seja repetitivo para
que não precise pensar. O religioso médio quer um padre, pastor, bispo ou
apóstolo que diga sempre as mesmas coisas, porque o que já se sabe não obriga a
pensar.
Pensar dói!
Dói porque obriga a rever o que se sabe, a reformular
conceitos, aventurar-se no desconhecido, assumir riscos, acertar e errar.
Pensar leva a trocar as antigas certezas por novas suspeitas (copiei o Zé Lima
aqui). E porque não pensam, ouvem absurdos e batem palmas. A cada pouco recebo
vídeos de “consultores” e “pregadores”, onde, tal como os vídeos de jogadores
que só tem jogadas boas, trazem suas “melhores contribuições”. Exceções à
parte, é um amontoado de abobrinhas. São “abobrinhas virais” porque se
esparramam pelas redes sociais qual praga da zika, embotando cérebros e
produzindo microcéfalos.
Há os especialistas em fazer rir. Acham que contar piadas
instruem. Há os palestrantes de motivação que são como carreira de cocaína: dão
uma animada temporária e depois o down.
Se se pergunta alguns dias depois a quem participa destes eventos, eles vão se
recordar da piada, mas nada do conceito e sua aplicabilidade.
Nisto, estranha-me que as igrejas, notadamente as
evangélicas, insistam em um modelo falido: a centralidade na pregação. Por mais
de uma vez já fiz isto e desafio os que me leem a também fazer: pergunte,
depois de alguns dias, aos frequentadores de cultos ou missas, aos
participantes destes treinamentos pasteurizados, o que foi que se ensinou na
oportunidade tal. Receber-se-á afirmações genéricas e muitos dirão que não se
lembram. E não se lembram porque não lhes afetou, não houve a participação do
ouvinte na elaboração ou na construção do saber. Como diria Paulo Freire, é uma
educação bancária: faz-se um depósito de X palavras no cérebro alheio, cuja
retirada é raramente feita. O conhecimento recebido sem a participação do
receptor é potencialmente menor no seu poder de mudança que o conhecimento
produzido em equipe.
Logo, não considero relevante quantos me leem ou me ouvem,
mas a qualidade de transformações que provoco.
Marcos Inhauser
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