Pastor em São Carlos, recebi a ligação de uma jovem para que
fosse visitá-la em sua residência. Ela alegava ter problemas de mobilidade. Lá
chegando, confesso, tive meu estômago embrulhado. Não tenho dom para enfermeiro
e nem cirurgião. Ela tinha um afundamento craniano que me pareceu que lhe
faltava metade do cérebro, com o consequente problema de paralisia acentuada em
um dos lados do corpo.
Ela me recebeu com sorriso e alegria contagiantes. Para
disfarçar meu embaraço, puxei da algibeira meu lado humorístico e tivemos uma
excelente conversa. Ela me disse que queria frequentar a igreja. Afirmei que
providenciaria para que isto acontecesse. Havia na igreja um jovem com o dom de
serviço, forte e alto que, tendo carro, poderia fazer o trabalho. Acertei com
ele e no domingo ele entrou com ela, carregada. Assim aconteceu nas vezes
seguintes.
Um dia fui visitá-la e ela me pediu que orasse pedindo que
Deus desse a ela um marido: ela queria casar-se! Fiquei pasmo e não sei se
consegui disfarçar o meu espanto, pois considerava o pedido impossível. Na
saída orei por ela e não mencionei na oração o seu pedido de um marido.
Terminada a oração ela me disse: “pastor, o senhor não pediu o marido para
mim”. Sem graça e sem jeito, e de maneira um tanto irônica, disse: “Oh! Deus!
Arruma um marido para ela!” Não era uma oração, era uma evasiva, quase uma
piada!
Sai de São Carlos e morei fora do país. Alguns anos mais
tarde me contaram a história dela. Um amigo do pai que morava a uns 200 km de
distância veio visitá-lo e pediu a um jovem da igreja que fosse dirigindo o
carro para ele. Ele conheceu a Izilda, conversaram animadamente pelo tempo em
que o amigo lá esteve. Alguns dias depois ele voltou à casa sozinho e pediu ao
pai que queria casar-se com ela. O pai lhe expôs as dificuldades e o que
significaria casar-se com uma mulher com tal grau de deficiência. Ele insistiu
e prometeu que cuidaria dela com todo o carinho. Diante da determinação do
jovem e do sonho da filha, o casamento foi permitido.
Casaram-se, mudaram para a cidade em que ele morava. Soube
que ele cuidou dela como princesa até o dia da sua morte e que eles tiveram uma
filha.
Perdi o contato com a família dela e nunca soube quem foi o
marido, qual seu nome ou de onde era. Talvez nunca tenha sabido porque anjo não
precisa de nome e endereço para atuar. Não sei onde mora a filha (ou filho, não
tenho certeza!). Mas desta história sobraram algumas certezas para mim.
Quando soube do que havia acontecido, pensei: Deus responde
até oração que não fazemos. Engano meu: achei que Deus tinha respondido a uma
oração que não tinha feito. Hoje vejo as coisas de forma diferente. Deus tem
uma predileção toda especial pelas viúvas, órfãos, deficientes! Deus não
respondeu à minha oração não feita, antes à suplica dela. Ele deu um marido a
ela no que pese a minha descrença.
De uma coisa sei e o sei por dura experiência: Deus pode
responder até mesmo as orações não feitas! Deus pode fazer aquilo que é
impossível! Deus pode dar um marido e uma filha a quem eu nunca teria dado!
É a graça de Deus!
Marcos Inhauser
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