O legislativo entrou na pauta das preocupações e atenções do
povo brasileiro. No mandato do Eduardo Cunha, um ex-membro da Igreja Sara Nossa
Terra e atualmente vinculado à Assembleia de Deus, tem traços que me fazem
lembrar o Moisés bíblico.
O Moisés viveu no fausto do palácio do Faraó. O Cunha
participou do governo Collor e por ele indicado foi para a presidência da Telerj
onde reduziu os investimentos da empresa
para se ajustar ao projeto collorido de privatizar
as estatais. Para tanto, criou uma
comissão de licitação vinculada a seu gabinete. O TCU constatou irregularidades na
contratação de servidores, que deu tratamento privilegiado a alguns
fornecedores e falhou na licitação para a edição de catálogos telefônicos. À época, foi acusado de
superfaturamento ao ter assinado aditivo de US$ 92 milhões em contrato da
Telerj.
Viveu nos palácios colloridos!
Moisés teve um delito em sua vida passada, antes de assumir a
condição de salvador da nação: ele matou o soldado egípcio e por causa disto
teve que fugir. O Cunha tem muitas coisas a explicar relativas ao seu passado.
O Moisés se apresentou ao Faraó e ao povo como salvador da
nação escravizada. O Cunha também o fez, apresentando-se como candidato que
traria a independência a um legislativo submisso à maioria governista. Dez
pragas foram necessárias para que conseguisse realizar sua obra. O Cunha, com
sua pauta-bomba, já semeou algumas pragas na economia brasileira.
O Moisés teve a perseguição do Faraó que queria prendê-lo. O
Cunha tem a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal atrás dele. O
Moisés teve o Mar Vermelho à frente, o Cunha tem o STF e um ministro de cara
avermelhada pelos traços étnicos. O Moisés passou incólume, o Cunha tem fé de
que também passará.
O Moisés subiu ao monte Sinai e de lá voltou com as leis para
o povo. Não houve a participação popular e desceu com a chancela do divino nas
tábuas que trouxe. O Cunha subiu na cadeira presidencial e do alto deste seu
Sinai, anda legislando a seu bel-prazer, mais para infernizar a situação que
para beneficiar o povo. Há nele um messianismo achando que salvará a nação. Só
ele se sente chamado.
Quando o legislador se afasta do povo para legislar, o povo
padece com as leis promulgadas. Ainda que os Dez Mandamentos tenham valores até
hoje aceitos, a jurisprudência feita pelos sacerdotes autorizou o matar a
pedradas quem não guardasse o sábado, desobedecesse ao pai, a mulher que
adulterasse. A lei pode até ser boa, mas os jurisconsultos a deturpam.
Não foi o caso de Jesus. Ao promulgar as bem-aventuranças
(código relacional a vigir no ambiente da graça e do Reino, codificadas nas
bem-aventuranças), Ele o fez com o povo à Sua volta. Subiu à montanha, mas não
o fez no isolamento e sim na companhia de uma multidão. Não legislou em causa
própria, mas rompeu com a lógica da justiça retributiva, muito usada pelo
Cunha: fez, leva o troco.
O Moisés tem o testemunho que foi o homem mais manso que houve
na face da terra. O Cunha tem o testemunho de ser violento, ameaçador e
vingativo. O Moisés, ainda que tivesse sonhado com isto, não entrou na terra
prometida. O Cunha, ainda que sonhe, não chegará à cadeira presidencial.
Marcos Inhauser
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