Há no imaginário popular a ideia de um grande juízo no fim dos
tempos, quando todos deverão responder pelos seus atos, toda a verdade se
estabelecerá e a justiça prevalecerá. Nesta corrente vem o ditado popular: “a
justiça dos homens falha, mas a de Deus prevalecerá”.
Este conteúdo escatológico que se dá à plenificação da justiça
se deve ao fato de que, como humanos, cometemos injustiças e ao assim proceder,
atentamos para a concretude da paz, porque não há paz sem justiça.
Na análise do comportamento humano (e isto já foi feito uma
infinidade de vezes), há os que reduzem as mazelas comportamentais e a causa
das injustiças, atribuindo à cobiça, por entender ser ela a causa mater de todos os pecados. Ela
está elencada no Decálogo Mosaico e pode-se resumir nela todos os demais
pecados. A cobiça do poder, a cobiça da mulher alheia, a cobiça dos bens
alheios.
O relato da criação e queda do ser humano relatado pela Bíblia
coloca o pecado primeiro na categoria da cobiça de poder: seriam iguais a Deus.
O projeto de se tornarem mais do que eram os levou a tropeçar e perder o
paraíso.
No mundo moderno a cobiça pelo poder ainda vige livremente. Os
super-heróis das revistas em quadrinhos e mais modernamente dos filmes de ação,
são pessoas dotadas de poderes ilimitados para combater os que querem assumir o
poder sobre todos. Poder foi o que satanás ofereceu a Jesus durante a tentação.
Nesta tentação caíram muitos. Desde a antiguidade até os dias
modernos há uma sucessão de pessoas que quiseram ser ultra-poderosos: os
Faraós, os reis persas, babilônicos, Salomão, Alexandre, Napoleão, Hitler, os
Bush (pai e filho). Temos hoje o norte-coreano Kim Jong-Un que não pensa duas vezes para eliminar quem não
se conforma totalmente aos seus desejos totalitários.
Há partidos que cobiçam o poder e estabelecem planos para
ficar X anos no poder. Lá chegando, aumentam o sonho e se locupletam para que a
permanência possa ser indefinida. Fazem esquemas, montam lavanderias, compram
fidelidades para assegurar a reeleição, compram o silêncio dos cúmplices,
contratam advogados a peso de ouro, compram a maioria no congresso, buscam a própria
estabilidade econômico-financeira.
Nesta cobiça do poder e da perpetuação nele, não se
envergonham de fazer coisas condenáveis e, quando flagrados, saem com a cara-de-pau
afirmando que sempre se fez assim, que não são os únicos, que a PF deveria se
preocupar com questões mais importantes. Para a mídia, fazem declarações de
inocência absoluta. Mesmo diante de extratos bancários comprobatórios, negam,
de pés juntos, que o dinheiro que está na conta em seu nome e que tem a sua
assinatura, não é dele e nem a conta lhe pertence.
Por ser o poder algo tão tentador e aderente, se assemelha a
uma tatuagem: marca e se remove só parcial e cirurgicamente. Daí porque, na
história da humanidade, as renúncias são mínimas e aconteceram em situações
limítrofes: saúde abalada ou credibilidade zero, que gera um desgoverno.
Estamos em uma situação quase-limítrofe: pode piorar ainda mais.
Os que propugnam a renúncia o fazem por candura, sem a concreta esperança de
que ela se dê. O Nixon renunciou porque não tinha alternativas. O Collor tentou
renunciar diante da iminência da cassação. O Blatter fez uma renúncia branca. Tem
gente que prefere morrer a renunciar: Vargas e Allende.
A eleição é tão constitucional quanto a renúncia ou o
impeachment. O que não é constitucional é o uso da mentira para se eleger ou
reeleger.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário