Há quem a chame de doutrina, outros de regras.
Há quem entende de teologia e há quem pensa que entende.
A verdade é que, por pertencer a um campo de domínio geral
(a religião), há muitos que se consideram teólogos, na mesma proporção em que
há os que se julgam técnicos de futebol. Talvez se pudesse aplicar o ditado:
“de teólogo e louco, todos temos um pouco”, ainda que, na minha experiência,
tenho visto mais loucuras que teologias.
No campo da teologia, há dois grandes grupos: os teólogos
conservadores que só fazem repetir o que alguns iluminados do passado disseram,
acreditando que depois deles nada de novo se produziu e o que eles falaram é a
nata da verdade. Tenho um amigo que foi fazer um curso de Mestrado e se matriculou
em um curso de Teologia Contemporânea. O professor, PhT, começou a descrever o
desenvolvimento teológico desde a patrística, chegou a Calvino e encerrou o
curso. O meu amigo, indignado porque foi para um curso de teologia
contemporânea, questionou o professor e este se saiu com esta pérola: “o último
teólogo foi Calvino. Depois dele, só lixo”.
O outro grupo é dos que trazem “novidades”. Este se divide
em dois: os que inventam novidades, sem embasamento e coerência (dente de ouro,
cuspe santo, unção de Abraão, prosperidade, doença como castigo de Deus,
maldição de família, G12, castigo hereditário, adoração ousada, etc.). O
segundo subgrupo é dos que ousam fazer perguntas às formulações clássicas e
reconhecidas e buscam novas compreensões para a fé. Neste contexto se pode
mencionar a Teologia da Libertação, as Novas Cristologias, a Teologia
Relacional, Teologia Feminina, Teologia Negra, Igreja
Emergente, Ortodoxia Generosa, Teísmo Aberto, Teologia Quântica, etc.
Há outra forma de ver. Há duas grandes correntes de
teologia: a da justiça retributiva e a da graça. A primeira tem uma multidão de
seguidores. Acho que não exagero se digo que mais de 99% a seguem. A
característica desta é que é sinergista: Deus faz a parte dEle e o ser humano
tem que fazer a sua. Ouvi no final do ano um pregador se estender por 40
minutos pregando sobre o texto “pela graça sois salvos e isto não vem de vós, é
dom de Deus” e ele enfatizava que a pessoa precisava acreditar, crer e aceitar.
Era a incoerência absoluta e a negação do que o texto afirmava.
A outra afirma a graça de Deus, o favor imerecido. Não é o
pagamento de algo que se faz ou se deixa de fazer, não é o agir de Deus
constrangido por alguma circunstância, não é resposta à oração. É o agir
motivado somente pelo amor de Deus. A primeira vê as dificuldades, os
obstáculos, os períodos de trevas como sinais do castigo de Deus, em função de
pecados conhecidos ou ocultos. A segunda vê em tudo a graça de Deus. No dizer
de um cântico: “indo e vindo, trevas ou luz, tudo é graça, Deus me conduz”.
Ainda que seja no vale da sombra da morte, a presença dEle se faz sentida e a
graça se manifesta.
Não há poço que a graça não alcance, não há escuridão que a
graça não ilumine, não há pecador que a graça não perdoe. Em Deus, tudo é graça!
Marcos Inhauser
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