Diante da tragédia de Santa Maria e dos inúmeros comentários
e análises já feitos, pouco ou nada a mais tenho a acrescentar, reafirmando, no
entanto, que não há efeito (tragédia) produzido por uma única causa. As muitas
causas já foram levantadas (projeto inadequado, superlotação, material inflamável,
falta de saídas de emergência, imprudência da banda, extintores que não
funcionaram, etc.).
No que pese toda a tristeza que o fato gerou, há uma coisa
que merece ser destacada como positiva: as várias pessoas que, mesmo tendo
conseguido sair da boate, para lá voltaram para resgatar a outras pessoas e
várias delas acabaram morrendo. Deram suas vidas por amor ao próximo. Há os que
foram em busca de amigos e namoradas, há os que se atiraram para salvar quem
pudesse, há os que não saíram, mas ajudaram outros a sair.
O caso do soldado que salvou quatorze pessoas e não
conseguiu se salvar, o caso de um dos que, à marretadas, abriu buracos na
parede e inalou os gases e acabou internado em estado grave, são dignos de nota
e elogios.
Se é verdade que houve quem visasse só o lucro, permitiu a
multidão que superlotou a casa e não permitiu a saída imediata do pessoal
porque deviam mostrar a comanda paga, é verdade muito mais evidente que houve
quem se sacrificasse para salvar vidas.
Outro aspecto altamente positivo foi a solidariedade
mostrada, quando centenas, talvez milhares de pessoas se dispuseram, dentro das
suas forças e habilidades, a ajudar no que podiam e era preciso. É o caso do
pedreiro que se voluntariou a fechar os túmulos porque não havia gente suficiente
para todos os caixões que deveriam ser sepultados. Gente que fez o café para
quem estava no velório, gente que abraçou, acolheu, chorou junto com os que
haviam perdido familiares e amigos. Gente abanando feridos e asfixiados em
plena rua, gente carregando a outros, gente que ajudou pessoas caídas a se
levantar para que não fossem pisoteados, como é o caso do músico da banda. Quem
o ajudou não olhou se era ele o culpado ou não.
Em um país marcado pela corrupção, impunidade e mau caráter
(como os casos candidatos à Câmara e Senado, enrolados até o pescoço em
denúncias várias), onde mensaleiros julgados pela opinião pública e STF
reafirmam suas inocências, o exemplo deixado pelos atos de heroísmo em Santa
Maria, devem nos orgulhar e enaltecer os valores do amor, mesmo que seja ele
sacrificial.
Eles mostraram que o que Jesus ensinou pode ser verdade não
só na vida do Mestre, mas também na vida de seus discípulos.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário