Um sociólogo da Universidade de Chicago (que a memória não
me permite recordar o nome), que afirma que há um elemento gregário no ser
humano e que as pessoas se aliam a outras que são iguais a elas e assim formam
grupos. Ele chama a isto de conformação tribal. A igualdade passa pela
semelhança no vestir, comer, falar, interesses, etc. A afirmação tem sua lógica
na medida em que nos sentimos confortáveis ao lado de pessoas que pensam igual
a nós, que concordam conosco em quase tudo, onde as conversas fluem em um
processo gradativo de troca de experiências e não fica patinando em afirmações e
contradições.
Lembrei disto na semana passada por causa dos recentes
episódios envolvendo dois líderes de partidos políticos. Para quem acompanha a
vida política do país há algum tempo, especialmente a partir do golpe de 64 e o
surgimento do movimento operário no ABC paulista que redundou na formação do PT,
também acompanhou as idas e vindas desta cria da ditadura que hoje lidera o PP,
mas que teve sua peregrinação iniciada na Arena e a carreira política fomentada
pelas fardas.
Lula e Maluf viviam às turras, com farpas envenenadas
atiradas dos dois lados. Há alguns anos era inimaginável pensar que um dia
pudessem se aliar. Mas como já disse Tancredo: a política é como a nuvem, a
cada minuto muda de forma. E nuvem mudou e muito a sua forma.
O Maluf continua o mesmo e até hoje deve explicações à nação
sobre as acusações e condenações que tem, notadamente as que se referem aos
desvios de recursos públicos e dinheiro no exterior. Ele sempre usou a fórmula
maquiavélica de que “os fins justificam os meios”. Neste afim sempre se aliou a
quem estava no poder e tentou se eleger em tudo quanto é cargo, de prefeito a
presidente.
Do outro lado, o Lula encarnava a virgem pura da política,
denunciando tudo e todos, especialmente Maluf e Quércia. Como não conseguiu
eleger-se presidente adotando a postura purista e de paladino da moral,
influenciado pelo amigo Zé Dirceu decidiu deixar o convento da castidade e
partir para algumas relações menos santas. Aliou-se ao PCdoB, ao PSB e ao PR,
dando a este a vice-presidência, que tinha sido do PRB (antes se chamava PMR) e
do PR. Assim se elegeu. Já eleito, fez um leque de alianças que mais parecia
arco-íris que algo ideologicamente construído. Em nome da governabilidade valia
tudo. Tanto valia que se aliançou ao PMDB a prostitua mór da política
brasileira, em pé de igualdade com o DEM. Impôs a Dilma como candidata e para
elegê-la entregou a vice-presidência ao Temer, velha raposa política e do PMDB.
Tentou o Kassab e sua cria, o PSD e se deu mal.
Agora os iguais e aliançam. Quem mudou? O Maluf ou o Lula?
Quem está levando ao paroxismo a máxima maquiavélica dos fins que justificam os
meios. Para tentar eleger um poste, vale tudo, até ir à casa do Maluf e tirar
fotos sorrindo ao ex-desafeto. O Maluf continua a mesmo. Só resta aceitar que a
mudança ocorreu no Lula e nos seus asseclas.
De políticos assim estamos cansados. Queremos gente com
valores e que tratem a coisa pública com seriedade e não nos chamem de palhaços.
Marcos Inhauser
Nenhum comentário:
Postar um comentário