No seu livro “Autoengano”, Eduardo Giannetti traz a seguinte
afirmação; “Se o tolo persistisse em sua tolice ele se tornaria sábio” (pg 56).
Citando Platão ele afirma que “todas as tentativas são arriscadas, e é
verdadeiro o provérbio segundo o qual aquilo que vale a pena nunca é fácil
(República, 497 d). Ao comentar o assunto ele afirma que a atividade humana é
como uma loteria, onde a aposta precisa ser paga na entrada, o que leva a
melhor parte das esperanças e energias. No entanto, as chances de sucesso são
mínimas e para cada ganhador há uma multidão de perdedores”.
Isto assim é, continua Giannetti, porque a capacidade humana
de autocontrole, perseverança e autoconhecimento é limitada. O saber não é
condição suficiente para o fazer. Há os que, mesmo sabendo muito e ensinando,
diante de uma tarefa que exige tenacidade e persistência, desistem ao enfrentar
os primeiros embates e justifica sua falta de competência em fazer, acusando e
atirando pedras em tudo e todos, como se eles fossem os culpados da sua
incompetência. Heráclito dizia que “a natureza ama esconder-se” (frag. 123).
Minha sogra tinha um ditado: “cada ladrão julga por sua condição”.
Sem saber, ela afirmava algo que filósofos clássicos já haviam dito. Vejo no
outro aquilo que não quero ver em mim, e como não tenho coragem de afirmar que
tenho os erros que aponto no outro, é mais fácil projetar e acusar os outros ao
invés de me denunciar. Para que não se descubra o seu ignominioso interior, o
acusador precisa que os outros creiam na sua credibilidade, que é honesto nas
intenções que tem. A máxima por trás disto é o que Protágoras dizia: “qualquer
um que não professe ser justo só pode estar louco” (323 b). Para tanto, via de
regra, fazem autoelogios: “a minha honestidade não permite”, “tenho um
currículo a zelar”, “o tempo mostrará que estou com a razão”. A questão, nestes
casos, é a hermenêutica por trás das palavras para descobrir as mentiras que o
acusador profere para acobertar o que nele existe.
Como humanos, o maior erro seria nunca errar. Falíveis,
erramos desde a fonte da humanidade. No que pese as afirmações dos
autoenganados honestos e impolutos, a sapiência está em reconhecer que todos,
imperfeitos que somos, não temos autoridade para atirar pedras, por melhor que
sejam as razões. O acusar o outro como responsável pelas minhas incapacidades é
mecanismo de defesa dos tolos.
Bernstein, no seu livro “Against the Gods” (pg 202) cita um
anônimo: “A informação que se tem não é a informação que se quer. A informação
que se quer não é a informação da qual se precisa. A informação da qual se
precisa não é a que se pode obter. A informação que se pode obter custa mais do
que se quer pagar”. Não sei por que, mas me vem à cabeça as mentiras e
desistência de um obstinado perdedor, que na loteria da vida ganhou uma
presidência e mostrou sua incompetência no trato da pandemia e acusa STF,
governadores e prefeitos pelo descalabro.
Para os tolos e perdedores, a busca da informação necessária
é tarefa tão cara que eles não estão dispostos a pagar, porque a incompetência
inata não lhes dá a resiliência para continuar até o fim e obter o prêmio da
vitória. Ao ver o tamanho da estrada desiste da carreira.
A desistência é típica dos frágeis, dos tolos, dos
perdedores.
Marcos Inhauser
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