Já fizeram isto. Colocaram várias pessoas sob as mesmas
condições e usando o mesmo aparelho de ressonância magnética funcional e as
expuseram ao mesmo estímulo e viram que cada qual respondeu diferentemente no
que às conexões neurais se referem.
Isto provou que cada um de nós tem uma forma diferente de
fazer suas conexões neurais e que não há duas pessoas que as façam da mesma
maneira. Ainda que haja a predominância de uma área cerebral estimulada, no
detalhe as conexões são diferentes.
Quando olhamos algo, quando somos provocados por uma
sensação tátil, olfativa, auditiva ou gustativa, cada um de nós reage de uma
maneira. Daí porque tem gente que adora chuchu, abobrinha e jiló e eu detesto.
E eu gosto de sashimi e tem gente que tem nojo. Isto nos leva a pensar que,
quando olhamos um quadro, uma árvore florida, eu posso “sentir” a coisa de uma
maneira e outro a sentirá de maneira distinta. Ambos podemos concordar que se
trata de algo lindo, mas não significa que eu e ele vejamos cerebralmente a
mesma coisa. Isto explica por que, diante de um mesmo fato podemos ter
interpretações diferentes e até antagônicas.
Não que um esteja certo e outro errado, mas ambos trazem à
tona a forma como cerebralmente as coisas acontecem. Também se pode entender
por que um é mais exagerado e outro mais sóbrio nas suas alocuções, porque um é
histriônico e outro moderado, veemente e passivo. O que para mim parece
mentira, para o outro pode ser a mais pura verdade. Também explica por que
temos mais dificuldades em ver problemas nos nossos familiares que em outras
pessoas. Uma mãe tem extrema dificuldade em reconhecer problemas
comportamentais ou físicos nos filhos. Há uma conexão neural que passa pelo
emocional e filial que a impede de ver as coisas. É um certo mecanismo de
defesa para que não sofra.
Há fatores culturais familiares, escolares e vivenciais que
interferem no mecanismo da criação neural e nos fazem ser diferentes. Mesmo
colocadas em situações de igualdade sócio-ambiental e educacional, dois gêmeos
univitelinos serão diferentes. Com isto entendemos por que há partidos
políticos, ortodoxia e heresia, fãs de música clássica e funk, pessoas menos
aceleradas e outras 220V.
Quem está certo? Em tese todos. Quem é o culpado? Deus! É a
única conclusão a que posso chegar quando vejo pessoas tendo problemas
viscerais para lidar com os diferentes. Como me disse alguém: “ele se nega a
dialogar; a palavra dele sempre é verdade”. Lembrei-me da esposa meio burrinha
que viu uma notícia de um carro na contramão na autopista, colocando a vida dos
demais. Ligou para o marido, também fraco de neurônio, e ele responde: “não é
só um, é um monte de gente vindo na direção contrária.
Somos como somos porque o Criador nos fez indivíduos únicos
e irrepetíveis. Só existe um igual a mim: eu mesmo. Não sou o padrão de medida
para mais ninguém. O que penso, creio, acredito, a minha verdade, são coisas
minhas. Servem para mim. Não sou exemplo infalível para os demais. Posso até
ter quem goste do meu jeito de ver, pensar e sentir e queira ser igual, mas nunca
será.
Ao invés de reclamar e brigar com a diferença, devemos
celebrá-la e tirar proveito delas. Não tenho o dom nem as habilidades para ser
enfermeiro. Minha mãe está hospitalizada em estado grave. Devo deixar a
enfermeira fazer o que não sei e não posso criticar porque não sei, não entendo
e não tenho jeito. Elas, sob qualquer circunstância farão muito melhor que eu
faria.
Marcos Inhauser
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