Viajando,
parei em um posto de gasolina para tomar um café. Era bem cedo e ali estávamos
vários para tomar o café da manhã. A pessoa que me atendeu estava fazendo o meu
com leite quando uma outra atendente, bem mais jovem, dela se acercou e
perguntou se ela tinha visto ultimamente um senhor que costumava passar com
regularidade.
A que
estava me atendendo, pediu mais detalhes sobre quem ela estava falando. A mais
jovem disse que era o “senhorzinho” que a chamava de “minha linda” e que,
quando ia embora, sempre dizia; “ainda caso com você”. A mais velha disse que
há algum tempo não o via. A outra perguntou: “será que ele está enfermo?”. Pode
ser, mas também pode ser que tenha morrido. Ele era já bastante idoso.
Olhei para
a mais nova e percebi que seus olhos marejaram. Ela se emocionou. “Não pode
ser, ele era tão alegre”. A outra, mais velha respondeu que mesmo as pessoas
mais alegres também morrem.
Senti que a
mais jovem estava bastante emocionada com a possibilidade de que o “senhorzinho”
tivesse morrido. “Eu sabia que ele dizia que ia casar comigo e que isto era
brincadeira dele, mas aquilo me fazia muito bem. Saber que havia alguém que me
dava atenção, me elogiava, e que fazia questão que eu o servisse.”
Ela deu
tempo. Respirou fundo. E volitou a falar: “sinto falta dele, sinto falta dele
dizendo minha linda e sair dizendo que um dia iria se casar comigo”. Dito isto,
ela entrou na cozinha. Não duvido que tenha ido ao banheiro curtir suas
lágrimas e sentimentos.
Eu fiquei
ali parado pensando no que havia ouvido e visto. Imaginei que, talvez, houvesse
quem o tivesse ouvido dizendo “minha linda” para a jovem, ou “ainda me caso com
você” e tenha dito: “velho safado”.
Saí dali
com lágrimas nos olhos. Cheguei ao meu destino com a coisa rodando na minha
cabeça e refletindo no poder que a atenção tem de dar sentido à vida das
pessoas, o como o elogio pode criar vínculos inimagináveis. Mais tarde, quando
conversava com uma pessoa que tem problemas de relacionamento com sua equipe,
contei a ele o que tinha presenciado. Senti que a coisa bateu forte nele.
Acostumado a ser um sujeito extremamente racional e frio, vi seus olhos, tal
qual os da jovem, marejarem.
Vivemos
dias em que pouco tempo temos para prestar atenção nas pessoas, não nos
arriscamos a elogiar quem nos serve, a dizer “minha linda”. Fomos criados para
estar em relação com os outros, para amar o próximo como se fôssemos nós
mesmos, para dar alegria ao outro. Acho que uma das missões mais sublimes da
vida é plantar sorrisos na face das pessoas com as quais nos relacionamos.
Podemos
fazer isto sorrindo, elogiando ou brincando. O humor é uma das formas mais
sublimes que o ser humano tem para tornar a vida mais alegre, leve e prazerosa.
Rir, sorrir, fazer sorrir e rir são o exercício do divino em nós. Na Idade
Média se discutia e se digladiava sobre o tema do riso em Jesus. Havia os que
defendiam que Ele, sim, riu, e outros diziam que, por ser o Filho de Deus,
nunca teria sorrido.
Eu, de
minha parte, acho que Deus dá gargalhadas com algumas coisas que fazemos ou
dizemos e que ele está no meio dos que se reúnem e dão boas risadas. Acho que,
quando o “senhorzinho” brincava com a jovem, Deus dava seus sorrisos.
Marcos
Inhauser
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