Leia mais

Há outros artigos e livros de Marcos e Suely Inhauser à sua disposição no site www.pastoralia.com.br . Vá até lá e confira

quarta-feira, 6 de março de 2019

É MUITA CINZA!


É verdade que o uso litúrgico das cinzas como símbolo de arrependimento remonta aos tempos bíblicos. Podemos ver o uso delas no arrependimento em Ester, quando Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas ao saber do decreto de Asuero I (Xerxes, 485-464 AC, da Pérsia, que condenou à morte todos os judeus de seu império Est 4:1). Outro personagem, Jó, mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e cobrindo-se de cinzas (Jó 42:6). Daniel afirmou: "Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza" (Dn 9:3). O povo de Nínive proclamou jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre cinzas (Jn 3:5-6). São exemplos do Antigo Testamento que mostram a prática estabelecida de valer-se das cinzas como símbolo de arrependimento.
Jesus fez referência ao uso das cinzas: "Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas teriam se arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11:21).
Por outro lado, as cinzas também são símbolo de algo que foi destruído, queimado, que virou pó. Elas são a evidência do aniquilamento. “Tudo virou cinzas” é uma expressão que denota derrota, impossibilidade de se recuperar ou ressuscitar.
Quando penso na quarta-feira de cinzas fico entre a cruz e a espada. Não sei se as cinzas, no caso do brasileiro, seriam símbolo de arrependimento ou de aniquilamento. Digo isto porque o Carnaval tem sido um evento nacional que vem ganhando contornos cada vez maiores a cada ano e são exploradas comercialmente as festas que em seu nome se realiza. Muitos cometem excessos de todos os gêneros e pode ser que, ao voltar à vida de trabalho e estudos, se arrependam dos excessos cometidos e por eles peçam perdão.
Parece que o ex-governador Cabral foi acometido do espírito de arrependimento antes da quarta de cinzas. Decidiu entregar os podres de sua administração. Acho que mudou a estratégia para ver se esconde ou sobra algum do arsenal de dinheiro que tem sabe-se lá onde.
Mas o Bolsonaro parece que está fazendo cinzas das suas promessas de campanha. Prometeu que não haveria o toma-la-dá-cá e há fortes indícios de que abriu o balcão fisiológico para, ao menos, aprovar a Reforma da Previdência. Mas ele próprio já está queimando etapas ao explicitar o que pode ser mudado na proposta, antes mesmo de se iniciarem as negociações. A sabedoria virou cinzas!
Também virou cinzas a propalada decisão de não interferir na composição ministerial, dando aos ministros carta branca. O recente episódio do convite feito por Moro a Ilona Szabó e sua defenestração, antes mesmo que esquentasse na cadeira, mostra que a carta branca tem seus pontos cinzas bastante escuros. O mesmo se deu com o Bebiano, criticado por ter marcada na agenda uma reunião com o encarregado das Relações Institucionais da Globo.
Se as redes sociais o alçaram à presidência, estas mesmas redes têm dado balizamentos para suas ações. Mesmo que venha dizer que nenhum dos filhos interferirá no seu governo, parece que o MBL e outros viralizadores de comentários nas redes têm, sim dado a pauta para este governo.
Se o senador Jorge Kajuru votou pedindo a opinião para seus seguidores no Facebook, parece que o presidente está fazendo o mesmo, olhando parcialmente para a opinião pública via Whatsaap e Instagram.
Marcos Inhauser