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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

NÃO SOU FORMIGA

A formiga tem uma vida previsível, obediente e metódica. Nasce sob a égide de uma rainha que comanda o formigueiro, tem suas atribuições determinadas pela hierarquia da colônia, pois, no ninho, as tarefas são divididas entre as castas, sendo que a divisão maior é entre as fêmeas reprodutoras (rainhas) e as operárias. Estas fazem o trabalho pesado: constroem o ninho, coletam comida e água, limpam, alimentam machos, larvas e protegem o formigueiro. Em certas espécies, as formigas soldados diferem-se das operárias comuns por terem partes do corpo maiores, principalmente cabeça e mandíbulas. Há ainda as cortadeiras (coletoras de folhas).
A previsibilidade da vida na colônia se dá até nos trilhos a serem seguidos pelas formigas ao saírem da colônia e buscarem o alimento e voltarem ao ninho. As formigas não têm ideia, nem pensam, nem refletem, nem planejam, nem sonham o futuro. Não precisam decidir, nem optar por isto ou aquilo, não precisam votar e nem responder a questões difíceis. Tem abundância sem preocupações. Nascem, crescem e morrem. Não precisam estudar filosofia ou teologia!
Eu, como ser humano que sou, tenho minha vida regida pelas minhas ideias, decisões e opções, cada qual com seu custo e benefício. Penso, examino, reflito, discuto, decido, me arrependo, sonho, planejo, construo, arrebento, reconstruo. Minha vida é diferente daquela monotonia da vida no formigueiro.
Formiga não se assusta. Eu sim. Formiga não se maravilha. Eu fico maravilhado. Para as formigas pouco importa se é o PT ou a Dilma que está no governo. Elas não sentem a crise e nem tem problemas financeiros. Eu sim os tenho. Eu voto, elas não.
Graças a Deus não sou formiga, porque se o fosse ou se tivesse que levar uma vida sem sobressaltos e novidades entraria em fastídio imediatamente. Gosto dos desafios, das questões difíceis, da novidade, do sobressalto. Nunca seria contabilista ou funcionário de cartório.
Nesta caminhada de aventuras, as questões do que é verdade, do que é certo, do que é justo, sempre alimentam e fomentam ideias e conclusões. Nisto, me lembro do Locke que li há alguns anos: “Apesar de nossas palavras significarem nada mais que ideias, porém, tendo sido projetadas para significar coisas, a verdade que elas contém será apenas verbal quando representarem ideias na mente que não estão em conformidade com a realidade das coisas”. Minhas ideias serão simples ideias se não estiverem em harmonia com a realidade das coisas.
Por não ser formiga, a cada dia devo rever minhas ideias, meus planos, meus sonhos para que entrem em sintonia com a realidade das coisas. Mudar é sinal de maturidade. Formigas nascem e morrem sempre do mesmo jeito. Eu não sou formiga. Eu tenho que mudar, redefinir-me, repensar-me, reposicionar-me neste mundo. A mudança é o sinal de que houve reflexão, avaliação, análise, redefinição de convicções.
O sucesso de uma ideia não se mede pelo tempo que a mesma é válida, mas pelo nível de harmonia que tem entre o pensado e a realidade das coisas. Se a própria realidade é mutável, uma ideia imutável é sinal evidente de falta de sintonia.
Por isto detesto os conservadores. Eles estão mais para formigas que para seres humanos.

Marcos Inhauser