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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

HÁ FUNCIONÁRIO E FUNCIONÁRIO


Quando da internação do meu pai no PS São José, escrevi dois textos. Em uma destas vezes recebi um e-mail de um funcionário do PS, que segue abaixo, com algumas edições:
“Provavelmente o senhor não se lembra de mim, mas fiz Raio-X do senhor Milton quando ele estava internado no São Jose. Meu nome é Wagner, sou técnico de Raio-X no PS há 11 anos. Muitas coisas já presenciei naquele local, histórias tristes e alegres, de perda e dor, de superação e humanidade.
Tenho orgulho do meu trabalho naquele local. Inúmeras vezes, depois de um plantão exaustivo, saí de lá jurando que na primeira oportunidade pediria transferência, mas até hoje, sempre que uma vaga em outro lugar aparece, acabo dispensando e continuo no bom e insano PS São Jose. Não estamos acostumados com elogios e reconhecimentos. Geralmente levamos apenas pedradas como o senhor mesmo presenciou enquanto cuidava do seu pai. Quantos xingamentos, quantas escarradas no rosto já levei naqueles plantões! Não estou falando no sentido figurado, mas literal. Já fui pra casa levando o DNA de pacientes nervosos, drogados, exaltados, que não se contentaram em ofender...rsrsrsrs. Não tem jeito.
Aquele lugar realmente nos mostra que temos uma missão a cumprir, que precisamos estar ali, mesmo que for para passar por essas agruras.
Quando vemos uma criança chegando toda roxa sem ar e depois saindo de lá sorrindo,  bem de saúde, não tem dinheiro que pague”.
Há aqui algumas coisas. A primeira é o senso de dever para com o próximo que o Wagner tem (e muitos outros). Já escrevi aqui sobre “Um Exército de Anjas” para falar de quem trabalha no Cândido Ferreira e “Mario Gatti da Graça” para reconhecer o cuidado que meu pai ali teve quando foi operado.
A segunda é que este pessoal trabalha sem recursos e há os que colocam dinheiro e equipamentos pessoais para poder atender à população.
A terceira é que os profissionais de saúde estão expostos à violência. Ela tem duas fontes: os que chegam alterados pelo álcool ou pela droga e os que, achando-se com algum direito superior aos demais, ofendem, xingam e agridem. São comportamentos insanos, como relata o Wagner.
Quarto é que causa revolta ver profissionais dedicados lutando com a falta de recursos e o dotô e quadrilha levando os milhões que o Ministério Público está dizendo que levou. Vi gente virando plantão para poder ganhar uns trocados a mais e porque não havia profissionais suficientes. Outros, sem nada fazer além das tramoias, levam malas do nosso dinheiro.
Quinto: o governo central, no ensejo de pagar os juros para os agiotas internacionais, decidiu fazer cortes no orçamento. Não cortaram verbas do Senado ou Congresso, nem das emendas parlamentares. Mas da Saúde. E o ministro tem a cara de pau de vir a público dizendo que os cortes não vão representar queda na qualidade do atendimento. São 5,5 bilhões a menos.
Pensando bem, acho que o Ministro não mentiu: é impossível piorar o atendimento médico público. Se algo funciona é pelo denodo de funcionários como o Wagner e outros que conheço.
Marcos Inhauser